PLANET HEMP NA ESTÂNCIA ALTO DA SERRA (SHOW EXTRA) – COMO FOI

Talvez hoje o Planet Hemp seja a maior banda nacional na atualidade. O sucesso da reunião pra atual turnê é um bom exemplo. O fato de ser headliner do Lollapalooza Brasil 2013 é outro (algo que o Lobão queria, chorou, esperneou e não conseguiu pra edição 2012).

Isso porque o Planet Hemp tem relevância não só musical, ao levantar a bandeira da legalização da maconha, ser notícia no Jornal Nacional e no Fantástico com a cana que pegou após alguns shows – e conseguir visibilidade suficiente pra sua causa justamente por aqueles que desejariam silenciá-la. Porém, o sucesso não veio só da causa, não residia apenas na polêmica. Havia conteúdo e qualidade musical, misturando hip hop, hardcore, samba, rap e rock no mesmo balaio, como ninguém ainda havia feito no Brasil com tanta reverberação.

Junte-se a isso o fato de Marcelo D2 ter um baita carisma e a banda ter dado duas crias ótimas, a carreira solo do próprio D2 e BNegão, com seus Seletores de Frequência.

Além do mais, “A Invasão Do Sagaz Homem Fumaça”, o último disco, foi lançado em 2000, tempo suficiente pra ter uma geração que nunca viu e presenciou cara a cara o mito construído com as prisões e as polêmicas – e com um discurso que faz a cabeça (ops!) dos jovens.

O sucesso arrebatador, que o Rio de Janeiro viu no Circo Voador dia 28 de setembro último, e pôde ser comprovado no ABC Paulista dia 14 de novembro de 2012, acabou, por exigência do próprio público, culminando num show extra na Estância Alto da Serra (com capacidade pra 12 mil pessoas), em São Bernardo do Campo, cravado no feriado a República.

O espetáculo é democrático, abrange todas os álbuns do grupo: é dividido em quatro atos, sendo um pra cada disco e um pra “qualquer coisa”, além do bis. É o Planet Hemp didático, tirando uma onda.

Raul Ramone, editor do ótimo Degenerando Neurônios, esteve lá, no show extra, e conta pra gente como foi a apresentação da banda, que continua acachapante ao vivo, tem fôlego pra continuar relevante e, aparentemente, não sentiu a falta de ritmo de jogo.

A MAIOR BANDA NACIONAL, EM QUATRO ATOS
Texto: Raul Ramone
Fotos: Leonardo Soares (UOL)

Depois de perder o primeiro show do Planet Hemp no Estância Alto da Serra, nessa quarta-feira (14 de novembro de 2012), lá vou eu pra São Bernardo do Campo assistir à apresentação extra marcada pro dia seguinte, em pleno feriado da Proclamação da República.

Pra começar, é preciso deixar bem claro que o Estância Alto da Serra é uma famosa casa de shows voltada pro público sertanejo universitário e sua localização não favorece muito quem depende do transporte público. Se não tiver carro, vai ter que camelar: esperar horas por um ônibus, pagar tarifas intermunicipais e por aí vai. Classe média sofre, sabe como é. Mas nada que não vire diversão ao fazer amizades com outros aventureiros pelo caminho.

Por volta das nove horas da noite, a movimentação na porta do Estância já era notável e o show de abertura ficou por conta do Projota, acompanhado pela banda Projetonave. O público parece não ter ligado muito pra a apresentação do jovem rapper, que tocou durante pouco mais de trinta minutos.

Finalmente, o momento que todos esperavam. Formigão, Pedrinho, Rafael, BNegão e Marcelo D2 sobem ao palco anunciando o primeiro ato do concerto (intitulado “Usuário”, o primeiro disco, de 1995), iniciado com “Legalize Já!”, “Deisdazseis” e “Dig dig dig (hempa)”. Acho importante falar sobre dois fatores fundamentais sobre a turnê comemorativa do Planet Hemp. Em primeiro lugar, não se trata de shows caça-niqueis, tanto que a banda recusou apresentações na capital paulistana pra priorizar a região do grande ABC, berço do punk-rock nacional. Em segundo lugar, a continuidade da última formação do grupo (com exceção de Zé Gonzales e Apolo 9) é a que tá “fazendo efeito”.

Outra coisa que chamou minha atenção foi a total falta de conhecimento do público, principalmente em relação às músicas mais antigas. É incrível como o hype em cima de certas causas se propaga através da Internet sem aprofundamento algum sobre seu significado.

Mas ok, isso não estragou o momento. Porque, é surpreendente a energia esbanjada por D2 e BNegão em canções extremamente aceleradas, como “Bala Perdida” e “100% harcore”. Parece que, por mais que o tempo passe, certas energias nunca mudam, nunca diminuem. Músicas atemporais como “Nega Do Cabelo Duro” e “Mantenha O Respeito” conseguem ganhar cada vez mais força com o passar dos anos.

Veio o segundo ato, “Os Cães Ladram Mas A Caravana Não Para”, com momentos de alta interatividade com a plateia, em canções como “Queimando Tudo” e “Quem Tem Seda?”. Nesses momentos dá pra perceber a força do Planet Hemp junto ao público.

“A Invasão Do Sagaz Homem Fumaça”, o terceiro ato, apresentou “Ex-Quadrilha Da Fumaça” (uma das melhores letras escritas pela banda), “Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga”, “Stab”, “Contexto” e “Procedência C.D.”. O destaque do quarto ato (“Anything We Want”) foi a versão de “Samba Makossa”, clássico de Chico Science (lançada originalmente no “Da Lama Ao Caos”, em 1994), e a já citada “Mantenha O Respeito”. Mais nostalgia impossível.

No bis, algumas repetições pra acordar o público, que já demonstrava cansaço após quase duas horas de show.

Quando a banda já havia se retirado do palco, D2 solta uma ironia politizada: “todo mundo gosta de dizer que o Rio está perigoso. Mas São Paulo também está”. Não dá pra escapar da polêmica, mesmo quando a polêmica já vai longe no tempo e o “sistema” engoliu a rebeldia. Mas isso é Planet Hemp.

(pra saber como foi o show de 14 de outubro, o do dia anterior, clique aqui)

Setlist

Ato 1 – Usuário
01. Não Compre, Plante!
02. Legalize Já!
03. Deisdazseis
04. Dig Dig Dig (hempa)
05. Planet Hemp
06. Fazendo A Cabeça
07. Futuro Do País
08. Phunky Buddha
09. Bala Perdida

Ato 2 – Os Cães Ladram Mas A Caravana Não Para
10. Zerovinteum
11. Queimando Tudo
12. Quem Tem Seda?
13. Gorilla Grip
14. Seus Amigos
15. Nega Do Cabelo Duro
16. Hip Hop Rio
17. Adoled (The Ocean)
18. 100% Hardcore

Ato 3 – A Invasão Do Sagaz Homem Fumaça
19. Ex-Quadrilha Da Fumaça
20. Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga
21. Stab
22. Contexto
23. Procedência C.D.

Ato 4 – “Anything We Want”
24. A Culpa É De Quem?
25. Samba Makossa (Chico Science & Nação Zumbi cover)
26. Mantenha O Respeito

BIS
27. Mary Jane / Dig Dig Dig (hempa)

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