Depois de me recuperar dos estragos feitos a mim mesmo, posso falar sobre o festival, aos interessados.
ORGANIZAÇÃO
Ei-la! Finalmente um festival de rock que se preocupa com quem paga os ingressos. O Planeta Terra deu de dez no Ruim Festival, com sua Bjork, suas chuvas malfeitoras (que não existiram de fato) e desculpas esfarrapadas. Foi covardia até. O que o Planeta Terra ofereceu foi um padrão espetacular de respeito ao usuário (isso se você não for menor de idade, explico mais à frente).
Nada de filas pra entrar. Nada de filas nos caixas para comprar água, cerveja, refrigerante ou comida. Nada de filas nos bares para pegar o que comprou. Nada de empurra-empurra nas pistas dos três palcos. Nada de banheiros imundos e filas pra usá-los, de tantas estações de banheiros que existiam espalhadas por toda área do festival. Nada de complicações pra estacionar (embora trinta dinheiros pra guardar um carro seja abuso). Nada de trânsito na chegada ou na saída.
Ótimo espaço pra show. Comunicação interna muito mais ou menos, mas nada que uma pergunta aqui ou ali não fizesse os caminhos e locais serem encontrados. Som ruim foi raridade(qualidade de som, não de música). Estrutura bem montada e com criatividade na decoração.
Beleza. Um grande festival, que só poderia ter trazido bandas melhores. Tomara que não tenha dado prejuízo, porque tem que ser repetido em 2008.
MENORES DE IDADE
Uma grande falha da organização foi com a molecada. Menor de 18 anos podia ou não entrar acompanhado dos pais? Um monte de menor de idade comprou ingressos, foi devidamente informado nos postos de venda, pelo pessoal da Ticketmaster, que deveria comparecer com os pais, mas foi barrado na entrada.
Sacanagem. A molecada é que faz o rock’n’roll. Ela é a consumidora do futuro. Tem ficar de olho nesse público. Comecei a ir a shows internacionais com 14 anos. Não dá pra barrar essa moçada.
Embora muita gente tenha adorado a ausência deles…
MUNDO MIX
Eu e minha senhoura passamos na porta e não entramos. Quem tem tempo pra ver roupas e bijuterias, quando tem uma penca de shows acontecendo em três palcos diferentes? Vai entender…
LAMBE-LAMBE
Apesar das piadas de duplo sentido que o tal espaço poderia gerar, ele existiu ainda assim. Tinha a ver com fotografia? E daí? Talvez porque o espaço que arrumaram pra fazer o Festival fosse enorme, a produção arrumou essas papagaiadas pra preencher os vazios. Vai entender…
ÁREA DE DESCANSO
Aqui a idéia é boa, porque ficar o tempo inteiro de pé, zanzando pra lá e pra cá é coisa pra quem tem energia de moleque (e já vimos que eles não puderam entrar). Os puffs, sofás e cadeiras poderiam vir a calhar se, de novo, não houvesse tantos show acontecendo um seguido do outro. Quem sentou e descansou, perdeu alguma coisa.
BEBIDAS
Impressionante, mas um festival em que era possível comprar cerveja a um preço decente (quatro reais) e ela ainda vinha gelada! Merece a lembrança…
Por outro lado, quem queria vodca, uísque, rum, gim, soda cáustica, qualquer coisa, não podia beber, porque não tinha. Alcóol só na cerveja mesmo. E soda cáustica, no leite nosso de cada dia.
COMIDAS
Nem passei perto.
DJ STAGE
Não consigo entender isso. As pessoas ainda acham que ter uma “tenda” ou um “palco” para música eletrônica é moderno. Bom, tem gente que acha que a Björk é moderna… Mas tudo tem limite. DJ Stage: totalmente dispensável. E, sim, eu sou radical.
INDIE STAGE
Minha frustração da noite. Fiquei vendo os jogos da Série B na TV e perdi a hora. Acabei chegando exatamente no final do show do Tokyo Police Club, fato que me deixou um tanto enfurecido comigo mesmo. A notícia chegou através de um amigo da onça, o que me irritou sobremaneira. Fui para o palco “indie” (sei lá o que esse termo significa) e acabei vendo o meu primeiro show da noite: Datarock.
Sinceramente, achava os caras bacanas e tal, mas foi frustrante ver os sujeitos de gorro na cabeça, pulando como uns débeis e tentando animar a platéia que até correspondeu. Eu é que sou velho, tudo bem. Mas a música deles é bem chata. E o som não tava grande coisa, com uma acústica ruizinha. O público, pulou e se divertiu, mas quem se divertiu mesmo foram os caras do Datarock, que não precisaram da presença dos pais para entrar no Planeta Terra.
Saí dali o mais rápido possível: na seqüência teríamos CSS e Rapture. O local lotou e a música seria aquilo que os ingleses e descolados brasileiros passaram a adorar sem eu saber o motivo. Preferi tentar a Lily Allen.
MAIN STAGE
Não me arrependi. Embora os críticos dos jornais paulistanos terem virado a cara pro ska da mocinha, dizendo que o show foi meia-boca, eu achei bacanaço. Não pela música em si, que é meia-boca mesmo (o som estava baixo), mas pela própria Lily Allen, que é divertidíssima. Meia-boca, mas boca suja: aí fica bom.
A moça estava mais bêbada que 80% do público e não lembrava sequer as letras das músicas que ela mesma escreveu. Que beleza! O show já valia por isso, mas ela ainda tocou duas coveres matadoras: “Heart Of Glass”, do Blondie, e “Gangsters”, do Specials. Tocou também “Smile”, mas não conseguiu empolgar um público que só fazia torcer o nariz pra bebedeira dela. Ora, pois pá: rock não é essa inconseqüência?
Palmas e um brinde pra Lily Allen, que agora vai tirar merecidas férias, conforme insistiu em dizer no palco. O de São Paulo foi o último show dela neste ano.
Depois dela, o Devo. Deu um choque ver o quinteto de tiozinhos de sessenta anos mandando pras caixas “Peek-A-Boom”, “Thats Good” e a cover dos Rolling Stones, “Satisfaction”. Os caras são loucos, loucos… Pulam, gritam, fazem piada com eles mesmos, dão “tiros” pro ar, trocam de roupa no palco e animam um bocado. Grande show, que pouca gente talvez tenha compreendido, porque o Devo não foi assim… um hit aqui no Brasil. Tá bom.
E, então, Kasabian. Olha, realmente a banda não é criativa e parece nem querer ser. A mistura de rock com eletrônica e barulhos afins só deixa o Kasabian bom demais e pronto. Dá uma olhada no set list:
Faltou “Running Battle” e, claro, “Test Transmission”, mas sempre falta algo, não?
O vocalista Tom Meighan lembrava muito Malcoln McDowell em “Laranja Mecânica”, de Kubrick, não só por causa do chapéu e dos trejeitos, mas pela zoeira sonora que ele, Sergio Pizzorno, Ian Matthews e Chris Edwards promoveram. Um grande show, pra encerrar um grande festival.
Saí pulando de lá, com as batidas do Kasabian na cabeça…
NÃO TERMINOU
Essa semana ainda tem LCD Soundsystem, tocando o ótimo “Sound Of Silver”. É terça-feira, 13 de novembro, em São Paulo, no Via Funchal. Ah, vale!
Dia 8 de dezembro ainda tem Police no Maraca, Rio de Janeiro; e She Wants Revenge, em Sampa, no Memorial da América Latina. É o Nokia Trends. Ingressos de ambos já à venda.
E, finalmente, se caguem pra grande notícia da Folha de S. Paulo hoje: Interpol no Brasil, dia 11 de março de 2008, no Via Funchal, em São Paulo, claro. Ingressos de pista a 100 dinheiros. Mas Beagá e Rio de Janeiro também vão assistir o Interpol. Beleza!
Brasil-sil-sil!