PLANETA TERRA 2010 – COMO FOI

Em uma palavra? Chato. Em outra? Divertido.

Não entenda isso como contradição. Há uma lógica aqui. Um festival tão bem organizado só deixa espaço pra você se preocupar em se divertir. As duas dezenas de milhares de pessoas que estiveram no Playcenter, no sábado passado, fizeram exatamente isso: se divertiram. Mas não necessariamente com a música.

Houve uma série de equívocos na escalação do Planeta Terra 2010. O que era teoria se fez realidade. O Of Montreal foi divertido e só. Pouca gente realmente curtiu. A maioria estava ou se matando em pé nas enormes filas para comprar ficha ou simplesmente conversando.

O calor ajudava a tomar umas geladas. E isso ajudava a ignorar o show.

Houve quem tivesse voltado extasiado do show do Holger, no palco indie. Mas não caio na do Holger. Tô fora. Eu e meia dúzia apenas. O Holger é daquelas bandas-unanimidade das quais não se pode criticar. É a morte. Tem quem fale bem por osmose. “Perdi”, mas relato o que ouvi: “foi demais”. Então, tá.

Terminado o Of Montreal, fui tentar a sorte no Yeasayer, na esperança que a babação de ovo da gringolândia se fizesse real na minha frente. E a banda começou bem, com a ótima “Madder Red”, a do vídeo-fofura, que fez meio mundo indie chorar – e terminou em grande estilo, com “Ambling Alp”. Mas só. O recheio estava insosso. Caiu na perobice sem tamanho.

Não é culpa da banda. É culpa do lugar. O primeiro equívoco do festival: as bandas e a organização precisam saber o seu tamanho. No Brasil, o Yeasayer deveria tocar num lugar como o Circo Voador, como SESC Pompéia (ou em tendas menores, como se faz com frequência lá fora. Naquela imensidão de fãs do Holger e do Smashing Pumpkins e do Mika, a banda ficou perdida.

Se esforçou, pulou, mas sucumbiu à indiferença da massa. Por outro lado, se é que há fãs do Yeasayer no Brasil, eles devem ter delirado com esse setlist:

01. Madder Red
02. Rome
03. Wait For The Summer
04. Tightrope
05. Grizelda
06. Sunrise
07. 2080
08. Mondegreen
09. O.N.E.
10. Ambling Alp

Veja algumas fotos (clique nelas para ampliar):

No caminho entre um palco e outro, brinquedos, ações de marketing, muita gente, cenografia e iluminação perfeitas. Quanto a isso, o festival não cometeu deslize algum. Mas basta?

De volta ao Main Stage, o Mika aprontava das suas. Pra muitos, o melhor show do festival: dançante, alegre, divertido. Não vi, cheguei bem no final, mas não sei se me arrependo. Qual seria o equivalente do Mika no Brasil? É só ligar a televisão no Domingão do Fautão… Volta e meia aparece algum… O mundo tá cheio de Mikas, chato e farofa pra caramba. Ainda assim, o melhor show do Planeta Terra 2010. Viva as diferenças…

Aliás, o Mika, como a cenografia e a organização, foi um dos acertos do festival. Por coerência, tá dito.

E o Phoenix? O caro e raro leitor pode achar que sou um mala, mas veja bem: acho o Phoenix um pé no saco também. Nem mesmo o superbadalado “Wolfgang Amadeus”, de 2009, me convenceu. E aqui, outro equívoco do festival: não seria o caso do Phoenix tocar num lugar fechado, menor, como o Yeasayer deveria?

Tenho uma “quase-certeza” de que o show seria mais encorpado e os franceses fariam a minha cabeça. No Main Stage, viraram formiguinhas, o som parecia pálido, a ponto de ouvir um grupo de garotas ao meu lado, fanzocas da banda, cantarem mais alto do que o que saía das caixas.

Mas, na boca do palco, como tava? Esse era o clima na abertura do show, com “Lisztomania” (o vídeo está uma droga, claro, mas o cara é fã, e é isso mesmo que quero mostrar):

Um vídeo que comprova minha tese. CQD. De perto, a banda é demais, empolgante, merecedora de toda e qualquer babação. Realmente gostaria de uma segunda chance com o Phoenix. Num lugar apropriado:

01. Lisztomania
02. Lasso
03. Long Distance Call
04. Fences
05. Girlfriend
06. Armistice
07. Love Like a Sunset Part I
08. Love Like a Sunset Part II
09. Run Run Run
10. Rally
11. Consolation Prizes
12. Rome
13. If I Ever Feel Better
14. 1901

Esse é o encerramento, com “1901”, pra instigar ainda mais:

Produtores, tragam o Phoenix de novo!

(a propósito, nada de Daft Punk aqui, certo: a boataria deve tá rindo à toa)

Daí, veio o Pavement. De todas as bandas, era a que valeria os meus duzentos dinheiros empatados no ingresso. Mas, de novo, lugar errado. Talvez apenas dez por cento daquelas pessoas (no Main Stage) queriam ver o Pavement. O resto esperava ansiosamente o Smashing Pumpkings. Tanto que a facilidade de chegar perto do palco foi angustiante: parecia que todos haviam ido embora, que o festival havia acabado. Muito espaço vazio na frente do gigantesco palco não é bom sinal.

Eu já esperava isso. Você já esperava isso. A organização já esperava isso. A banda já esperava isso. O Pavement sabe que seu som não é pra qualquer ouvido.

E nossos ouvidos mal-treinados de brasileiros que têm poucas oportunidades de ver bandas como essa preferiam o Smashing Pumpkins. Nada contra – eu também queria ver muito o SP mais uma vez – só que o Pavement ficou deslocado e não serviu nem como banda de aquecimento. O público era outro.

Dando de ombros, a banda que vive internamente às turras, foi profissional e mandou uma pérola atrás da outra. Começou enérgica com “Gold Soundz”, passando pela pululante “Stereo” e a ótima “Date With IKEA”, ganhou adeptos com a contagiante e conhecida “Cut Your Hair”, pra planar soberano por mais de uma hora de espetáculo.

O Pavement fez sua parte e valeu meu dinheiro. Só não foi perfeito por causa do lugar.

Eis o setlist:
01. Gold Soundz
02. Grounded
03. Perfume-V
04. Stereo
05. Date With IKEA
06. Unfair
07. Shady Lane
08. Starlings of the Slipstream
09. Kennel District
10. Conduit for Sale!
11. Rattled by the Rush
12. Heckler Spray
13. In the Mouth a Desert
14. Summer Babe
15. Cut Your Hair
16. Stop Breathin
17. Spit on a Stranger
18. Silence Kit
19. Box Elder
20. Range Life
21. Two States
22. Here

Veja “Gold Soundz”, que fiz com uma câmera bem mixuruca, mas que tá valendo:

E veja “Cut Your Hair”, no vídeo oficial da organização:

(clique na foto para ampliar)

E a briga entre o Billy Corgan e o Stephen Malkmus? Nos bastidores, não sei. No palco, o Pavement deu de lavada.

Talvez o Smashing Pumpkins tenha sido a maior decepção do ano.

Como uma grande banda, com enormes serviços prestado ao rock, pode virar um espetáculo circense para Corgan demonstrar suas habilidades na guitarra? Quando a coisa chegou a esse ponto?

O show foi muito parecido com o da Argentina, pelo menos no setlist, embora aqui tenha tocado menos músicas.

Isso aconteceu por um motivo óbvio: Billy Corgan perdeu muito tempo em solos, demonstrações de habilidade, firulas e afins. Dava pra tocar umas cinco canções a mais. Foi, por isso, em muitas partes, um show bocejante. O cidadão manda um hit – e o Smashing Pumkins tem um bocado deles – e de repente, um anti-clímax, com a guitarra zunindo minutos a fio. O chato e o divertido numa só.

Houve muita gente reclamando. E há quem diga que o Hot Chip e o Girl Talk foram mais divertidos. Não conferi nem um nem outro. Fui pra casa. Fui expulso pelo ego inflado do senhor Corgan. Chegando em casa, coloquei o “Mellon Collie And The Infinite Sadness”. E confirmei: sim, o Smashing Pumkins é bom, é divertido, mas não aquele chato do Planeta Terra.

As três primeiras músicas do show, num só vídeo:

01. The Fellowship
02. Lonely is the Name
03. Today
04. Astral Planes
05. Ava Adore
06. A Song for a Son
07. Bullet With Butterfly Wings
08. Tarantula (Love Gun Kiss’ cover)
09. United States (com The Star-Spangled Banner / e solo de bateria de Moby Dick, do Led Zeppelin)
10. Spangled
11. Drown
12. Shame
13. Cherub Rock
14. Zero
15. Stand Inside Your Love
16. Tonight, Tonight
Bis
17. Heavy Metal Machine

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Comentários

comentários

Um comentário

  1. Holger é legal só isso mas a apresentação deles foi muito boa,apesar de terem assassinado os Pixies no final.Gostei bastante do Of Montreal , voltei correndo pro outro palco pra assistir.Já o Mika não é a minha praia mas foi muito divertido ao contrário do Phoenix que como esperava é chaaatoo pra carai ao vivo.Mas eu estava lá era pelo Pavement;ver uma das bandas que mais escutei na vida de perto foi emocionante,depois confesso que fui embora e isso já estava nos meus planos pois não sou muito fã dos Pumpkins.Ah, a organização do evento tmb me agradou, achei digna.

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