PLANETA TERRA 2012 – COMO FOI

Alguma coisa não deu certo no Planeta Terra 2012. Em comparação com o sucesso retumbante de vendas de 2011, embora não justificado em cima dos palcos, a edição que se deu ontem, dia 20 de outubro de 2012, pode ser considerada um fracasso: ingressos encalhados e gente vendendo tíquetes na véspera por até cinquenta reais – contra o preço cheio, de bilheteria, de trezentos e trinta.

Além disso, teve a “novela Kasabian”, com um final nada feliz, por conta da “doença” de Sergio Pizzorno. Embora a “mídia especializada” e os hipsters insistissem que não, a banda era a conexão com a atualidade dentro da escalação final e isso poderia fazer a diferença.

Poderia, mas nada disso influenciou tanto. É incrível perceber como o Planeta Terra mesmo se “apequenando” diante dos concorrentes, como o Lollapalooza e o Rock In Rio, mostrou-se um acerto. Não pelas bandas, pela escalação, mas pela organização mais uma vez primorosa, que acabou minimizando os problemas de encontrar um equilíbrio artístico-comercial ideal.

Os problemas ainda estavam lá, principalmente pras consumidoras femininas, que enfrentaram filas insanas pra ir ao banheiro. Durante o show do Garbage a impressão era que o simples ato fisiológico seria um martírio tenebroso. Algumas mais corajosas deram uma banana pra qualquer tabu e utilizaram os banheiros masculinos mesmo. Filas, poucas, também foram vistas em alguns caixas, que não davam vazão aos consumidores que desejavam comprar com cartão. Mas não foi nada tão ofensivo quanto as filas pros banheiros femininos.

O Planeta Terra ainda encontrou outro obstáculo: a chuva. Logo no começo da jornada, quando Mallu Magalhães subiu ao palco principal, uma água de intensidade razoável molhava os poucos presentes. Aqueles que não haviam saído de casa ainda debatiam consigo mesmos se refugavam ou não. Mas o sol apareceu e quem resolveu ir ao Jockey Club de São Paulo, com uma temperatura agradabilíssima durante todo evento, certamente não se arrependeu.

A localização do Jockey ajudou: é privilegiada, a poucos minutos a pé do metrô Butantã. E não há opção melhor pra ir a um evento desses do que de metrô. Isso conta bastante no quesito “respeito”: tranquilidade pra chegar, tranquilidade pra entrar, tranquilidade pra sair, tranquilidade pra voltar pra casa.

No final das contas, o evento recebeu um público que não pode ser chamado de “ruim” – trinta mil pessoas – e, acredite, não pode ser chamado só de coxinha. Quem esteve lá acolheu bem a defasagem em relevância da escalação proposta.

Suede e Garbage tiveram seus dias de glória dez, quinze anos atrás – embora ainda estejam se mantendo na ativa. The Drums é o velho-novo, o hype que não se sustentou. The Maccabees, o mal amado e bem intencionado. Gossip, fora de hora, finalmente chegou e, apesar do show de boa recepção, valeu mais pelas piadas de finalmente ter se apresentado no Brasil. Kings Of Leon assumiu as anedotas da noite pra um show que valeu apenas aos fãs mais extremos, aqueles insanos e sem cérebro, uma ex-banda em atividade no quesito “importância” (se é que houve alguma importância, em algum momento).

Coube, curiosamente, à Best Coast o melhor momento do festival, poeticamente falando inclusive. Seu pop ensolarado – um clichê válido – literalmente “chamou” o sol. O brilho do astro venceu as nuvens de chuva justo durante o show e valeu a Bethany Cosentino um espanto. Espanto que alguns antenados presentes também tiveram ao ver a camiseta de Bobb Bruno, o japonês-cérebro da banda: da dinamarquesa e “metaleira” Mercyful Fate. Alguns foram ao delírio.

A banda se estendeu demais no set, talvez por conta do cancelamento do Kasabian, fato que não se fez notar em grupos de carreiras mais “consolidadas”, como Suede e Garbage. Ambos aproveitaram os minutos a mais herdados pra saciar os fãs.

E isso salientou um problema maior do festival: é impressionante o quanto essa escalação ficou calcada num passado distante ou recente. Garbage e Suede estão lá longe, com um bocado de fãs emotivos matando a vontade de ver os ídolos frente a frente. Mas quer saber? Mesmo se você não fosse fã, valeu a pena. Embora Suede soe datado, resida mais na memória e Brett Anderson ainda tenha um tanto de charme; e o Garbage tenha em Shirley Manson uma baita frontwoman, mas que, como diz um amigo, aparente ser uma Avril Levigne adulta ou com mais punch, foram dois shows que elevaram a relevância do festival. Apenas estavam deslocados no espaço-tempo.

No intervalo, entre um e outro, The Maccabees se mostrou pouco eficiente e o The Drums, acredite, igualmente datado – parece que faz muito tempo que Jonathan Pierce e companhia apareceram e indicaram algum talento. Pulei Azelia Banks por uma questão de sanidade (ouvi duas músicas e desisti), mas ficou claro ao meu redor que o público abraçou a apresentação como uma “balada” empolgante. Simplesmente não era pra mim.

Gossip foi a saída pra tosqueira que o Kings Of Leon, a tal ex-banda em atividade, apresentou. Embora o começo com “Molly’s Chambers” tenha sido uma boa sacada pra pegar os trouxas de primeira viagem, como eu, a banda não se sustentou na sequência. Mudar de palco foi a solução. Mas o Gossip também não agradou, mesmo citando Tina Turner, Madonna, Nirvana, Lady Gaga e Queen. É uma banda sem o menor significado, que teria feito mais nome e sentido se tivesse desistido mais uma vez de vir ao Brasil – a piada seria mais engraçada do que as músicas apresentadas.

De qualquer forma, no balanço geral, o Planeta Terra teve mais pontos positivos – é uma boa aula de organização, mas é uma aula ainda maior sobre como esse negócio de festivais não é pra aventureiros, algo que o próprio Planeta Terra precisa continuar mentalizando. Se a edição deste ano pareceu eficiente, mesmo com uma escalação fora de esquadro, foi porque o clima do festival e o nome do festival ainda se sustentam.

Mas outros equívocos como esse talvez não sejam perdoados. Uma escalação antenada com os anseios do consumidor é essencial pro sucesso do negócio – é o óbvio do óbvio. Só história, bom nome e organização não garantem nada.

Essa é uma lição que a organização do festival tem de aprender.

BEST COAST SETLIST

01. When The Sun Don’t Shine
02. Crazy For You
03. Goodbye
04. Last Year
05. Summer Mood
06. The Only Place
07. No One Like You
08. How They Want Me To Be
09. Why I Cry
10. Let’s Go Home
11. Our Deal
12. Do You Love Me Like You Used To
13. Something In The Way
14. I Want To
15. When I’m With You
16. Boyfriend

THE MACCABEES SETLIST

01. Child
02. Wall Of Arms
03. William Powers
04. Go
05. Young Lions
06. No Kind Words
07. First Love
08. Precious Time
09. Can You Give It
10. Heave
11. X-Ray
12. Feel to Follow
13. Love You Better
14. Pelican

SUEDE SETLIST

01. She
02. Trash
03. Filmstar
04. Animal Nitrate
05. We Are The Pigs
06. The Wild Ones
07. The Drowners
08. Killing Of A Flashboy
09. Can’t Get Enough
10. Everything Will Flow
11. So Young
12. Metal Mickey
13. Heroine
14. New Generation
15. Saturday Night
16. Beautiful Ones

GARBAGE SETLIST

01. Automatic Systematic Habit
02. I Think I’m Paranoid
03. Shut Your Mouth
04. Why Do You Love Me
05. Queer
06. Stupid Girl
07. Hammering In My Head
08. Control
09. #1 Crush
10. Cherry Lips (Go Baby Go!)
11. Blood For Poppies
12. Milk
13. Special
14. Talk Of The Town-I Got To Sleep (The Pretenders cover)
15. Push It
16. Only Happy When It Rains

THE DRUMS SETLIST

01. What You Were
02. Best Friend
03. Me And The Moon
04. If He Likes It Let Him Do It
05. Book Of Stories
06. Money
07. Baby, That’s Not The Point
08. I Need Fun In My Life
09. I Need A Doctor
10. Forever And Ever Amen
11. Days
12. How It Ended
13. I Felt Stupid
14. Let’s Go Surfing
15. Down By The Water

KINGS OF LEON SETLIST

01. Molly’s Chambers
02. Taper Jean Girl
03. Four Kicks
04. The Immortals
05. Fans
06. Back Down South
07. Crawl
08. No Money
09. Radioactive
10. Notion
11. Be Somebody
12. Closer
13. Pyro
14. On Call
15. Knocked Up
16. Sex On Fire

BIS
17. The Bucket
18. Manhattan
19. Use Somebody
20. Black Thumbnail

GOSSIP SETLIST

01. Love Long Distance
02. 8th Wonder
03. Move In The Right Direction
04. Listen Up!
05. Melody Emergency
06. Four Letter Word
07. Get A Job
08. Men In love
09. Perfect World
10. What’s Love Got To Do With It (Tina Turner cover)
11. Yr Mangled Heart
12. Get Lost
13. Into The Wild
14. Standing In The Way Of Control

BIS
Heavy Cross
We Are The Champions (Queen cover)

Veja Best Coast tocando “Whe The Sun Don’t Shine”:

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