POLTERGAT – BLANKA

Talvez o maior elogio que se possa fazer a “Blanka”, o disco de estreia do Poltergat, é que ele soa como se os garotos do vizinho estivessem ensaiando na garagem: som abafado, seco, distante, mas vigoroso, como se eles estivessem se divertindo um bocado.

É um tipo de som raro nos dias de hoje – tempo em que condomínios de duas, três, quatro torres, pombais de gente de classe média, amontoados de pessoas isoladas e incomunicáveis entre si, infestam as metrópoles brasileiras.

Mas isso não quer dizer que seja exatamente bom. É mais um esforço digno de produção (a cargo da própria banda e de Billy Comodoro, dono do Estúdio Aurora, um dos locais de gravação, ao lado do Estúdio Subway, ambos em São Paulo). Assim, é possível dizer, ao menos e logo de partida, que o disco tem uma identidade. Só parece insuficiente.

Ao ouvir o primeiro trabalho, o EP de três músicas, “Poltergat”, de 2014 (ouça aqui), fiquei um bocado empolgado. O que parecia ser um vigoroso exercício de musculatura do som do trio – formado por Gabriel Muchon (guitarra e voz), Dudu Lourenço (baixo) e Guilherme Migliavaca (bateria) – com grande influência de Black Rebel Motorcycle Club, se tornou agora um corpo estranho, uma obra feita por outra banda.

“Blanka” tem qualidades, é evidente, pra além da identidade sonora, de seu punk rock garageiro. A principal delas é eliminar quaisquer barreiras de fronteiras comunicacionais (a poesia aqui é em inglês, embora com letras bem simples e ingênuas, como todo punk embrionário o era) ou de tempo. Não é um disco que se proponha nostálgico ou daqui ou dali. Ele é urbano de uma maneira expressiva que serve aos dias de hoje e não ao final dos anos 1970 ou começo dos 1980 (com o qual ele poderia se identificar mais, sonoramente falando). Urbano pra qualquer grande e massacrante cidade do mundo.

Mas falta a “Blanka” uma canção certeira, que pegue na veia, que fique na mente. Essa poderia ser “Suicidal Citizens”, o primeiro single (veja o vídeo aqui), ou a ótima “Lost Subs”, mas até elas falham no intento. O rife de “Bright Lights”, que fecha o disco, é o mais próximo desse gol, embora o ouvinte possa desistir antes de chegar nele.

A incômoda falta de variação durante toda a obra pode ser o motivo, mas ouso arriscar outra explicação. Foi excesso de maquiagem, excesso de adorno. O Poltergat é um trio vigoroso, que encontrou um foco de ação e nele se enfiou – ser “a” banda de garagem que aparentemente não é (coloco esse termo a bandas como essa). Em outros termos: “Blanka” tem a identidade de uma banda de garagem sem parecer ser executado por uma.

Ao longo dos vinte e oito minutos de “Blanka”, o ouvinte vai bater cabeça, vai ser tentado a pular e até a gritar. Falta a sensação de “querer mais”, como o primeiro EP deu dois anos atrás. Falta mojo. Falta aquele grafite que dá certa cor ao cinza das metrópoles.

O disco foi lançado dia 11 de novembro de 2016, numa parceria Howlin’ Records e Sinewave (baixe de graça aqui). Billy Comodoro e Aécio de Souza cuidaram da gravação no Estúdio Aurora; e Ânderson Lima, no Estúdio Subway. A mixagem e masterização são de Comodoro.

01. Another Dream
02. Suicidal Citizens
03. Close Call
04. Clashdown Fever
05. Mental Crush
06. Atlantic
07. Nothing To Lose
08. Not Clever
09. Lost Subs (clique aqui pra ver o vídeo)
10. Bright Lights

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