RADIOHEAD + KRAFTWERK

Estava disposto, sinceramente, a falar mal do Radiohead.

Mas para quê?

E por qual motivo?

Não há um sequer. E por isso, minha lógica montada para esse texto foi por água abaixo. O Radiohead é bom, melhor ainda ao vivo e pronto.

Sim, ao vivo vira uma banda orgânica (e o termo não é modinha) destruindo todos os aparatos de produção que o disco utiliza para esconder uma possível banda limitada. Mas longe disso! A produção esmerada dos discos é mais um instrumento do Radiohead e, mesmo sem ela, a banda é forte como um touro até nas músicas mais contemplativas.

Não preciosu muito para eu perceber isso. Bastou o pontapé inicial, com “15 Steps”, infinitamente melhor do que no disco. A segunda, “There There”, que pressupõe-se ser melhor ao vivo, pela carga de peso, fica melhor mesmo! Até “House of Cards”, minha preferida do último disco, “In Rainbows”, que só veio no segundo bis (seguida de outra que teoricamente não funcionaria ao vivo, mas ficou melhor, “Everything Its Right Place”), acabou surpreendendo pela crueza com que foi desfilada.

Não ligo para o palco criativo, mas nada original (quem viu REM no Brasil, sabe do que tô falando). Se a música é o que importa, ao menos o Radiohead se esforça para compor uma “experiência” aos pagantes. Tubos transparentes cobrem o palco com laseres sobre eles, dando um tom futurista de Rua 25 de Março, mas que funciona muito bem pela grandiosidade. E os telões diminutos, com as muitas câmeras, como essas de segurança de shopping center, acabam fortalecendo o clima: o Radiohead quer ser visto de todas as maneiras, formas e em todos os lugares.

E é aí que eu quero chegar. O Radiohead sabe o que faz. Dentro e fora dos palcos. A exigência da abertura ser do Kraftwerk mostra que a importância da banda vai além do quesito musical (“Ok Computer” e “Kid A” são, sim influências de feridas duradouras): é educativa.

Basta ver a molecada embasbacada diante de “Radioactvity”, “Trans Europe Express”, “Tour de France”, “Music Non Stop”, “Computer World”, “The Model”, “Showroom Dummies” (essa cantada em alemão), “The Robots”, “Man Machine”, “Aero Dinamik” e de “Autobahn” (diminuída, por motivos óbvios). “os caras são doidões”, é o que se ouvia por aí. São, sim. E influenciaram 99% dos seus ídolos.

Ver o show do Kraftwerk é de fato uma “experiência”, daquelas que o Radiohead ainda busca, 15 anos após o lançamento do seu primeiro disco. Os alemães são poetas musicais e visuais. A simplicidade das projeções nos telões e das músicas chega até a assustar de como funcionam tão bem 40 anos depois de estrearem em estúdio. É o terceiro show deles que vou e não me canso de dizer são os melhores, mesmo que o som e o lugar, como o de ontem, não ajudem.

Se ao menos 10% dos moleques e gurias que estvam na Chácara do Jóquei nesse domingo e na Apoteose, sexta-feira, resolverem baixar as músicas ou comprar os CDs do Kraftwerk, Thom Yorke e companhia já terão ficado satisfeitos. E eu também.

O Kraftwerk é vital e está em plena vitalidade. Tanto quanto seus fãs, o Radiohead.

O que resume: foi um show para viver, sentir e lembrar pra sempre.

Ah: os Los Hermanos são realmente um lixo!

Ah (2): Quando alguém (além do pessoal do Planeta Terra) vai aprender a organizar um show que obedeça o mínimo de respeito aos consumidores? Essa Chácara do Jóquei é o fim da picada!

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