Não estou falando de música. O que pegou nesse primeiro dia de evento foi o recado que a banda deu pra esses inconsequentes organizadores de um festival que tinha (tem) tudo para dar certo: line up decente (pelo menos em partes), fora de São Paulo, organização e tals… Mas… Pista Vip.
Contra o dinheiro não há argumento que vença. Nem mesmo a cascata da sutentabilidade. Não adianta falar aos produtores de shows que “pista vip” é roubada! Não adianta! Quando coça no bolso, que se dane o resto!
Aí, vem o Zack De La Rocha com o seu tradicional “foda-se”, incita todo mundo, via Internet, a invadir – literalmente – a área vip, em protesto a essa distorção. Na Argentina, por motivos óbvios, a área vip foi abolida. No Chile e no Brasil, não. No Brasil, aconteceu isso:
As pessoas invadiram a área vip, houve tumulto óbvio, gente prensada nas grades e muita confusão. A banda teve que parar de tocar. Mas que se dane, eles deram o recado.
O problema é que mesmo esse recado de pouco adiantou. A produção do SWU, cheia de marra, sempre lotada de razão (como no famoso caso dos banheiros no acampamento), vai continuar achando que o show foi um sucesso só (como os tweets caras-de-pau demonstram) e que não houve problemas. Aliás, problemas de som são desculpáveis, embora irritantes. Sim, acontecem. Mas o caso do Rage Against The Machine vai mais longe: foi protesto mesmo, contra uma insanidade, que é a tal “pista vip”.
Muito se diz que show de rock não se vale, nem se mede, pela grana que o fã tem no bolso. Não é esse o ponto. Quem quer dar uma de idiota e pagar mais por nada, que pague. O que não pode é tirar de qualquer fã a possibilidade de ver seu ídolo de perto só porque não pode, ou não quer, desembolsar “x” reais a mais (e R$ 250,00 não é, definitiavamente, barato, o que dizer então de R$ 500,00 ou mais?). Mas pro SWU, com sua balela toda, isso é normal, faz parte do jogo e paga as contas.
Vamos ser sinceros, quem caiu nessa de sustentabilidade, comprou uma de mané. Os blogues brasileiros não falam isso porque todos são comprados com ingressos, com o selo de “insider”, com o crachá de imprensa. Não se fala mal de quem provém o pão, tá certo?
Então, o Rage Against The Machine fez isso. E deu no que deu. Se tivesse visto a confusão para sair da Fazenda Maeda, o trânsito, a desorganização pra comprar qualquer coisa nos caixas, a falta de respeito com o consumidor, com os fãs, talvez nem tivesse aceitado tocar – embora, até pra eles, o que conta mesmo é o dinheiro.
Só que o rock é protesto, é discussão, é peitar o sistema, nem que seja como zoeira, como “pose”. E o RATM, mesmo inserido no sistema, tenta dar a sua chacoalhada. O problema é que tá brigando contra o patrão do SWU, que sempre tá certo e quer nos ensinar como salvar o mundo. Fica difícil dialogar assim. Melhor mesmo é incitar esse tipo de reação.
Ponto pra banda.
E ponto maior ainda porque não tem ninguém que tenha falado mal desse show. Seja na cascatice do SWU ou não, o Rage Against The Machine dá o seu racado. Senão, veja “Bulls On Parade”: