RESENHA: ALAMBRADAS – CÍCLICA EP

Nicole Patrício está por aí há muito tempo. Analisando as letras do penúltimo EP, “Amargo” (ouça aqui), ainda temos a mesma garota sonhadora, deslumbrada com a paisagem urbana e correndo atrás de sonhos que parecem muito distantes às vezes. O que guia a cantora continua sendo suas sensações mais imediatas, o que é um paradoxo, pois as melodias e instrumentação de “Cíclica” são muito polidos.

Ouvir o retorno da Alambradas, dois anos e meio após o lançamento anterior, é como encontrar uma amiga querida que, de alguma maneira, a aceleração da vida nos distanciou: percebemos como ela está mudada e se expressa de maneira mais incisiva, ainda não perdendo o olhar de amor e entusiasmo pelo que faz. A julgar pelas letras, às vezes um pouco mais cansada, é verdade. Mas o cansaço parece não ser algo que ameace interromper a sequência artística de Nicole. Seus passos às vezes têm uma cadência calma, às vezes desconfiada. Mas a soma deles e o caminho trilhado até aqui pavimentam possibilidades vastas. Percebe-se isso em função da base de piano e também todas as adesões instrumentais que não eram notáveis nos outros trabalhos.

Se, antes, a gravação em campo, na faixa “Estação”, era o alívio instrumental do EP anterior, agora a música “Cíclica” nos introduz guitarra e clarinete, que condensam a ambiência de todo trabalho.

Chama atenção nesse EP, em especial, é como ela pode soar como um misto de Kid Abelha e Clarice Falcão (em “Mapa Dos Arredores (Ouvi Dizer)”), ao mesmo tempo em que parece uma crooner de boate decadente (em “Don’t Tease Troubles Anymore”), revelando uma voz de gente grande e não de menina tateando a idade adulta. Um registro de transformação que também se percebe na capa, um desfoque em movimento. E no título do trabalho.

Nicole Patrício afirma que a vida não é justa às vezes e me parece que sua experiência grita aqui. É um trabalho de impressões pessoais realizado em colaboração (a saber: Bruno Vetz, vocais em “Real First Step”; Lucas Felipe Franco, bateria em “Mapa Dos Arredores (Ouvi Dizer)”, Mariana Yumi, clarinete em “Cíclica”, e Rafael Carozzi, guitarras em “Cíclica”, Victor Meira, baixo em “Mapa Dos Arredores (Ouvi Dizer)”, além de Filipe Consolini na master e mixagem) e com um desenvolvimento embrionário relativamente lento se contar que é um EP.

Sabe-se que músicos independentes ralam muito para conseguir lançar um produto. Isso bastaria já pelo trabalho duro, mas a audição de “Cíclica” exige outros retornos, porque a cantora nos mostra seus períodos de formas cada vez mais incisivas, não perdendo suas dúvidas e, felizmente, sua insistência.

1. Words / Gloves
2. Mapa Dos Arredores (Ouvi Dizer)
3. Don’t Tease Troubles Anymore
4. Cíclica
5. Real First Step

NOTA: 7,0
Lançamento: 31 de maio de 2016
Duração: 17 minutos e 55 segundos
Selo: Independente
Produção: Alambradas e Filipe Consolini

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