RESENHA: ARCTIC MONKEYS – AM

FORA DO TEMPO

Por que a gente tem mesmo que amadurecer? Ok, não dá pra ficar adolescente o resto da vida, mas dá pra ao menos manter o sentimento adolescente, aquela raiva, aquela vontade de chutar umas bundas, só por chutar, mesmo que estejamos errados, porque gente “madura” ou “velha” é um saco, cheio de regras, cheio de leis, cheio de pode-não-pode.

Aí, volta e meia, aparecem uns moleques sacanas, filhos da mãe, prontos pra peitar tudo e todos, nem que seja só por umas minas e umas cervejas. Já vale a pena. Toda inconsequência criativa, de alguma forma, vale a pena.

Então, vale perguntar, por que tanto apreço pelo que é “antigo”, independente de ser “bom” (qualidade como conceito subjetivo)? Por que esse apreço acaba sendo um sinônimo de “amadurecimento”?

O Arctic Monkeys não responde a essas questões no seu celebrado novo disco, “AM” – de “Arctic Monkeys” e de “amplitude modulation”, explicitamente exposta na capa, o modo de modulação nas transmissões de rádio que foi sobrepujada pela “mais moderna” FM, e que Alex Turner usou a partir da inspiração de, veja só, “VU”, coletânea de sobras de estúdio do Velvet Underground, lançada em 1985.

O olhar pro passado, almejado no rock dito puro e adulto, e metaforizado pela embrionária modulação comercial, corrompe o ideal primário dos fãs do Arctic Monkeys, adolescente, juvenil, celebrado pela recordista estreia “Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not”, de 2006, do explosivo hit festivo “I Bet You Look Good On the Dancefloor”.

Mas talvez seja uma interpretação errônea dos próprios fãs e da crítica. Apesar da explosão adolescente, o Arctic Monkeys sempre teve um pé “na seriedade”, deixando a inconsequência pras pistas de dança ou pras plateias dos shows. Alex Turner leva muito a sério o que faz.

Em “Humbug”, o terceiro disco, lançado em 2009, a aproximação com Josh Homme, ídolo do Queens Of The stone Age, banda respeitada por onze em cada dez críticos ditos “sérios”, mostrou o caminho que a turma de Turner sempre quis seguir. E os aplausos vieram de quase todos os lados.

“AM” é um aperfeiçoamento da ideia, da fórmula. O Artcic Monkeys parece que sempre quis ser QOTSA, na força, na raiva, na atitude. A faixa de abertura, a boa e pegajosa “Do I Wanna Know?”, é um bom exemplo, de rife classudo, direto.

Ouça “Do I Wanna Know?”:

Só que essa raiva, força e atitude não se sustentam por todo o disco. Parecem forçadas, posadas, algo teatral, mesmo que pra eles próprios haja a sensação segura de autenticidade. Essa é a música que Alex Turner e companhia, todos na faixa dos 27, 28 anos, querem fazer? Ótimo, nada contra, ainda mais quando bem executada e produzida. Entretanto o pacote completo cheira a produto vencido antes mesmo de chegar à prateleira.

E, curiosamente, graças à mão de Josh Homme. É com a participação vocal dele que aparecem as músicas mais constrangedoras do disco: “Knee Socks” e “One For The Road”, essa última o exemplo máximo de que o trabalho todo parece um coletivo de canções que fará a festa de programadores de “rádios rock” em seus empoeirados programas de “clássicos do rock”.

Se “Arabella” tem um baixo contundente, um rife rasgado e uma letra sacada (cheia de referências e a preferida de Turner), e “I Want It All” apresenta a dualidade guitarras-duras-e-batidas-dançantes, afastando o cheiro de naftalina (na mesma linha do bom pop “Fireside”, com participação de Bill Ryder-Jones); a fácil balada “No. 1 Party Anthem”, exalando Elton John, volta à trilha do clichê do “rock clássico”. É pra tocar em FM rock-de-butique.

O disco apresenta uma única canção realmente intrigante. É “Why’d You Only Call Me When You’re High?”, destoando do todo justamente por dialogar com… os jovens. Uma letra simples, numa situação corriqueira, aliada a uma batida quebrada, certa sensualidade e acessibilidade, fazem da música a peça mais natural da banda aqui.

Veja o vídeo oficial de “Why’d You Only Call Me When You’re High?”:

Por outro lado, nada mudou. O time é o mesmo. James Ford está na produção. Alex Turner continua sendo um dos porta-vozes da sua geração. As referências da banda continuam as mesmas (de QOTSA a Outkast). E o visual é mesmo “rebelde dos anos 50”. Com tudo aprimorado e acentuado, “AM” virou um alvo fácil de elogios acalorados. Acabou considerado o melhor da discografia dos Monkeys.

Se for, temos um dilema: ou a discografia da banda é de fato uma porcaria, ou todos vivemos numa época que não nos pertence. Seria, pois, tudo uma mentira. Preferimos pelo visto olhar pra um estranho passado embolorado, baseado em sabe-se lá quais tradições musicais. O Arctic Monkeys não está buscando seu espaço no tempo: está modulando o passado pra que ele seja o seu espaço.

NOTA: 5,0
Lançamento: 6 de setembro de 2013
Duração: 41 minutos e 35 segundos
Selo: Domino Recording
Produção: James Ford

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Comentários

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7 comentários

  1. Mesmo quando não concordo contigo, Sr. Floga-se, o que não é o caso aqui, eu sempre bato palma pro que tu diz e essa resenha é o que eu tenho vontade de vomitar na cara do povo doido que está celebrando esse disco novo como se fosse a última bolacha do pacote. Dá vontade de imprimir esse texto, adicionar mais umas coisinhas e mandar estampar numa camiseta.

  2. Excelente resenha. Realmente é um álbum bem requentado e sim o tempo dos dois primeiros lançamentos dos Arctics são fora de série, rebeldia adolescente transformada em acordes. Mas AM possui sim músicas que valem – como já descrito – a sua compra, a exemplo Do I Wanna Know com um puta RIFF, Arabella e a ótima Fireside. O ano não está perdido.

  3. Só tome cuidado na forma como colocar as coisas…

    Ao invés de “isso É assim”, escreva “isso ME PARECE ser assim”.

    Pois veja, uma das faixas que você acha constrangedora é a minha preferida do álbum, e a outra uma das. Pra tu ver como é esse negócio de opinião…

  4. Eu achei o álbum muito bom. Uma música que me deixa arrepiado é mad sounds. Eu acabei de sair dessa fase de gostar do Rock mais agressivo. Um ótimo álbum pra quem não gosta da pegada do MFWN, que prefere algo mais clássico.

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