RESENHA: B-ALURIA – CAOS COM NOME

O caos pode não se dar pela forma como a gente imagina o caos. Sem ruídos e sem uma ruptura, o caos pode simplesmente se emaranhar por entre aquilo que precisamos como acertado, estipulado e construído com forma e lógica. E de repente lá está ele, se endireitando e se agigantando.

Não, o caos não é nem apresenta uma forma – e nem poderia, seria a sua própria negação – mas ele tampouco é uma entidade ou uma essência não identificável, porque o que o caracteriza é a contrariedade. A bagunça, a não-compreensão, a falta de comunicação, a violência, o ódio, o ruído, tudo pode ser caos e pode ser forma, basta ser contrário ao que desejamos como lógica. Eis o mecanismo da sua suficiência: por não se identificar, não se prepara pro que ele por ventura possa causar. Por outra, o caos também é oportunidade de reconstrução, de recomeço, de re-aceitação.

Gabriela Nobre, a b-Alúria, chega a “Caos Com Nome”, seu trabalho pós “[vers]” (leia e ouça aqui) reforçando esse sentido de não-ruptura. Sua música não chega a expurgar nada, não tenta confrontar nada, nem destrui coisa alguma. Ela se espreita. É uma música de becos, arestas, pequenos lugares e esconderijos. Ali, seu poema sussurra. Frases jogadas, muitas vezes incompreensíveis, porque não há atenção voltada a elas, que estão, reforçando, à espreita.

O disco curto (tem menos de vinte minutos) é formado de breves ruídos (“Feiticeira Vermelha (Vermillion)” e “My Rhine Atrocity” elevam o tom), com mais climas e colagens. O silêncio parece predominar, mas não é o silêncio, é um quase isso. Sozinho (e com fones), o ouvinte perceberá os portões abertos pra uma área não descrita da música. Os detalhes estão lá: o chiado da agulha no vinil, os teclados bem sutis, os porcos, os versos, os pássaros, as vozes da mente, as batidas de metal… e o silêncio.

Não é o caos como imaginamos. O caos que temos em mente é aquele quando “Um Fluxo E Um Obstáculo Se Encontram” (na homenagem ao poeta Christophe Tarkos). Mas aqui não. Não é um atrito. Não é uma explosão, ou o big bang – ao contrário, é a vida formatada e cotidiana encontrando seus conflitos usuais e que não causam muitas vezes reação alguma. O conturbado do dia-a-dia. É o caos que passa, que fica no esquecimento, que depois volta de outra forma, problemas que se enfrenta, o caos que se desconhece, que não tem rosto, nem previsão, nem manda aviso. É o caos que não tem nome.

1. Bruegel
2. Porco, Ex Vara
3. Adília, Eva, Marta
4. Caos Com Nome
5. Feiticeira Vermelha (Vermillion)
6. My Rhine Atrocity
7. “Um Fluxo E Um Obstáculo Se Encontram” (Homenagem A Tarkos)

NOTA: 8,0
Lançamento: 14 de agosto de 2018
Duração: 19 minutos e 16 segundos
Selo: Seminal Records
Produção: Gabriela Nobre

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