SOTAQUES E CHOQUES CULTURAIS
Há pessoas que precisam de apenas um ou dois dias numa cidade pra pegar o sotaque local. Gente que desembarca em Beagá e no dia seguinte já solta involuntariamente um “uai”; ou que em dois passos sob os braços do Cristo Redentor já está achando tudo “maneiro” e falando “cumpadi”; sem contar uma aterrissagem em Congonhas pra falar um digno “orra, meu”.
Não há nada demais nisso, certo? Uma boa parte da população mundial se encanta e é afetado de alguma maneira por um choque cultural. É quando as diferenças parecem não fazer incitar mal algum.
Bethany Cosentino e Bobby Bruno são desses. Californianos daqueles medianos, que vivem no seu mundinho (embora um mundinho bastante aberto ao mundão – ela mora e trabalha em Eagle Rock, um subúrbio de Los Angeles), bastaram experimentar o sucesso do primeiro disco, “Crazy For You”, de 2010, e sair numa excursão extenuante, pra perceberem que a Califórnia é só um grande pedaço de terra no globo. Há outras culturas, outras línguas, outras pessoas. Tomaram centenas de choques culturais – principalmente no próprio país.
Quem acompanha Cosentino no Twitter, pôde perceber várias exclamações de espanto e surpresa por conta de suas viagens (sempre saudosa de casa). Tais viagens deixaram na dupla uma marca que se pode ouvir agora, em “The Only Place”, seu segundo disco.
A banda já não apresenta apenas aquele pop ensolarado típico de quem vive com o bafo marinho no cangote. E a vida já não é assim tão doce e serena. Há perdas, há tropeços e há um mundão lá fora. O Best Coast aprendeu isso e, nos choques culturais, assimilou os sotaques. Sua música agora tem muito de blues, mas tem muito principalmente de country.
A despeito de “How They Want Me To Be”, uma baladinha romântica que poderia ser encaixada no disco anterior, o álbum se mostra cambaleante sobre o que pretende ser. Parece mais uma fase de transição. Há muitos exemplos disso: a faixa-título, que abre o disco, “Why I Cry”, “My Life”, “Better Girl”, “Do You Still Love Me Like You Used To” e a vibrante “Let’s Go Home” (pra dançar com chapéu de caubói ou coisa do gênero).
Ouça “The Onlye Place”:
Além disso, há faixas pouco inspiradas e inspiradoras, como “Last Year”, um tanto preguiçosa, e “Dreaming My Life Away”, que talvez sejam apenas carentes de muitas audições pra encantar.
Nisso tudo, o melhor é perceber que Cosentino amadureceu. Suas letras agora falam mais de dores e amores, daqueles problemas do coração (como em “No One Like You”) que em certa época da vida são inevitáveis – e mais preocupantes – embora ela se expresse ainda de um jeito um tanto infantil.
Mas nada de gatos, praias e baseados – o que já é um avanço.
“The Only Place” é um disco de descoberta – da vida adulta, das responsabilidades decorrentes, dos conflitos com o mundo. Um disco que tem alguns sotaques forçados, tem boas intenções, mas não tem o principal: inspiração. Cosentino ainda não achou o seu lugar, o seu mundo.
NOTA: 4,5
Lançamento: 15 de maio de 2012
Duração: 34 minutos e 25 segundos
Selo: Mexican Summer
Produção: Jon Brion
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[…] Bethany Cosentino andou por aí na crista da onda, nas altas rodas intelectuais californianas (ou estadunidenses). Havia meio que deixado a música de lado, comentário que vale pro meia-boca último disco, “The Only Place”, de 2012. […]