RESENHA: BETTER LEAVE TOWN – FLAT

Uma pequena dose de incerteza é o tema lírico que incentiva as canções do Better Leave Town. Uma insatisfação com as frases feitas e a constante visita da nebulosidade e da obscuridade – se trata da confusão de não entender perfeitamente como as coisas atingiram o ponto que estão. A sonoridade abraça muitas noites ouvindo aqueles discos do Hüsker Dü ou do Nirvana.

Pensando bem na minha vida, eu não muito mudei muito do garoto que ouvia Nirvana com quinze anos e do garoto que dez anos depois ouviria “FLAT” e reencontraria. como eu encontrava nas palavras de Cobain, uma similaridade no desconforto com a vida em geral. Às vezes, como a própria energia surge forte em ritmos que na maioria do tempo são mais cadenciados, a confusão passa e fica a certeza de algo concreto. Algo que cravou uma sensação plena de comunhão – uma noite com a pessoa amada ou trocando ideia com algum amigo querido. Então, a combinação do visual cansativo da cidade, as melodias grudentas dos curitibanos e as guitarras arrastadas corporificam algo que estamos exatamente sentindo. Algo que eu realmente estou passando na minha vida.

Toda canção em “FLAT” tem um andamento que colide e confronta os vocais. Pode-se ouvir “FLAT” não apenas como o reconhecimento da confusão, mas como o conhecimento dos motivos que nos fazem deixá-la suspensa por algum tempo. Os vocais anseiam por alívio e, entre as guitarradas sempre presentes, exigem o direito de falar sobre o que assola o eu-lírico. A distorção das guitarras também não deixa o seguimento das músicas previsível – neste caso, a própria instrumentação entra na penumbra e também parece tão suscetível quanto o narrador das canções. É como se a banda soubesse que existem ciências capazes de codificar sobre como suportar tudo, mas do quê adianta? Não há conforto em ouvir que tudo vai passar e que tudo vai melhorar.

Como ouvintes, podemos interagir com cada elemento das canções. Isso porque a produção de “FLAT” prima pela captação dos instrumentos de forma bem clara, ao mesmo tempo em que tudo soa muito como uma sessão ao vivo. Dá pra cantar junto e ouvir a instrumentação e notar vários dos detalhes. É difícil encontrar bandas que são lideradas pelo seu próprio senso e, embora muitas influências sejam associadas, que façam a estética sonora bem da sua maneira.

O álbum todo é sobre a interação dos integrantes enquanto músicos e amigos, pessoas que se importam por um produto final e, claro, sobre os meios que vão usar para atingi-lo. Ao passo em que os erros são assumidos no campo lírico, é difícil não reconhecer o quanto a banda toca bem e sobre a especificidade que ela tem no cenário brasileiro. Não há bandas fazendo o som específico que o Better Leave Town faz. Ao mesmo tempo em que há uma energia pulsante, somos envolvidos na introspecção de quem sabe que não pode parar. Melhor: de quem sabe que não tem como parar.

Quando eu me envolvo com discos como “FLAT”, há uma saída da passividade que me direciona principalmente a tudo que tá acontecendo na minha vida. A banda de Curitiba trabalhou pra injetar sua interação sonora em temas líricos muito caros e íntimos. Sobre reconhecer seus erros e torcer que nunca mais fique tão confuso ao ponto de repeti-los.

01. Falling In The Same
02. Some Decisions
03. My Wishlist
04. Ready To Go
05. Meet Me In Santiago
06. Instrumental
07. Isn’t Pretty To Think So
08. We’re All Waiting
09. Old Warm Clothes
10. Flat

NOTA: 7,5
Lançamento: 13 de junho de 2016
Duração: 24 minutos e 48 segundos
Selo: Independente
Produção: Better Leave Town e Luís Piazzetta

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