RESENHA: BIG UPS – BEFORE A MILLION UNIVERSES

Os universos apresentados pela banda nova-iorquina Big Ups aparentam uma suposta simplicidade que é atravessada constantemente por guinadas diretas com acordes e berros que remetem a um “faça você mesmo”, que se confunde com a estética pós-punk e no wave da região, no início dos anos 80. O que torna este álbum não apenas uma obrigatoriedade pra fãs destes gêneros, como caracteriza a sequência do Big Ups, que já vinha com o certeiro “Eighteen Hours Of Static” (2014), como uma banda extremamente direta – e é desses golpes concretos que a banda cria sua estética.

No entanto, esse novo álbum surge com momentos maiores de discrepância entre a valorização das passagens quietas e os períodos caóticos. Os berros de Joe Galarraga comovem e perturbam, pois são entregados como fator decisivo entre a diferenciação da quietude e da explosão nervosa.

A discordância do todo social é o contexto que “Before A Million Universes”, o segundo disco dos caras, opera a rudeza do indivíduo em uma época em que os “universos” são todos estereotipados em frases de autoajuda e empoderamento através da conquista de capital. Aos poucos, percebe-se o álbum como a anatomia cruel de uma pessoa que vive na periferia destes ideais robotizados. Como essas pessoas são afetadas pela aparente ideia cristã e de progresso neoliberal, qualquer possível estima de valor próprio é descartada nos bueiros frente ao convívio social. Ainda assim, na digestão lenta e bruta do disco, Galarraga acredita que as coisas quebradas podem ser arrumadas. Veja bem, “Before A Million Universes” é sobre a tentativa de achar algum universo (esperança) fora do espaço comum construído por mentiras e competição.

Este processo de encontrar alguma esperança, uma vez já desacreditado da maioria das convenções, impõe à banda a criar estruturas retas que contorcem e forçam o ouvinte (ao menos tentam) pra um espaço de desconforto, em que essa sensação instável propulsiona ao inesperado. A demência obstinada sentida através dos berros esconde um pouco de sobriedade e é no grito sôfrego, porém pertinente, que a banda encontra maneiras de desestruturar o estabelecido. As guitarras pontuam a instalação do caos, enquanto o baixo nos lembra de alguma paz. Poderia ser ideia de criança numa dualidade infantil, mas os berros estranhamente grudentos juntam-se às distorções pra nos lembrar que a liga que o Big Ups joga é muito alta. Não que a banda não traga defeitos – em uma canção eles falam que não suportam muito tempo sendo eles mesmos. Mas trazemos esse desígnio e é nessa constatação que a banda insiste. A admissão de seus defeitos e explorá-los de modo que vire uma marca registrada é a maior força do Big Ups.

Eles são pessoas frias que registram uma sequência de ataques nervosos pra explicitar sua incredulidade com o que a realidade se tornou. A contemplação, mesmo nos momentos mais angustiantes, guia uma banda com voz intensa que está descontente com todas as propostas de vida apresentadas. Há a constatação de que há uma vida por começar, em algum lugar além dessas ruas contaminadas e a banda está obstinada nessa busca. Não é que eles aceitam as coisas como são, mas a desconfiança de que pode haver outro prisma é o que guia cada canção.

01. Contain Myself
02. Capitalized
03. Posture
04. Feathers Of Yes
05. Meet Where We Are
06. Negative (Intro)
07. Negative
08. Hope For Someone
09. Knight
10. National Parks
11. So Much You
12. Proximity Effect
13. Yawp

NOTA: 7,0
Lançamento: 4 de março de 2016
Duração: 42 minutos e 27 segundos
Selo: Exploding In Sound Records
Produção: Dan Frome

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