RESENHA: BLOC PARTY – FOUR

POR UMA DOSE DE SEMANCOL

Tenho uma teoria simples: se você teve alguma importância nesse mundo, deixe então no mundo nada mais do que as boas lembranças dessa relevância. Ou, em outras palavras, saiba quando tirar o time de campo.

Na música, no cinema e no esporte, há incontáveis exemplos de gente que podia se retirar pra curtir as glórias do passado, mas insiste mais um pouquinho. Há quem não tenha em casa uma garrafinha de semancol, aquele elixir tão importante pra nos resguardar de momentos vergonhosos. O pessoal do Bloc Party até ganhou uma grana boa, mas não comprou cem mililitros sequer do tal remédio contra o constrangimento da própria história.

Quando a banda lançou seu primeiro disco, “Silent Alarm”, em 2005, soprava uma refrescante alegria nas pistas de dança… errr… “indies”. A composição de baixo, guitarra e bateria seca e dançante, alternando com bons punhados de melancolia, um discurso atraente nas letras de Kele Okereke e uma produção que enchia de espaços vazios as canções, dava à banda uma merecida visibilidade, mesmo sem originalidade suficiente que a projetasse pra um futuro decente.

Eis que veio “A Weekend In The City”, ainda aprazível, mas mostrando uma banda desgastada, que deveria pegar o boné e se mandar. A cota de existência do Bloc Party deveria ter terminado ali, o que pouparia o mundo do risível “Intimacy”, de 2008, e desse equívoco que é “Four”.

O quarto disco da banda foi marcado pelos boatos de que Okereke não era mais do grupo e pela troca de produtor. “Four” tem Alex Newport à frente, substituindo o especialista pop Paul Epworth (de Florence & The Machine, Cee Lo Green, Adele, Foster The People, Friendly Fires, Maxïmo Park e, claro “Silent Alarm”, do Bloc Party), mas tentando soar justamente como Epworth fez a banda soar nos tempos de alguma relevância.

Há algumas faixas em “Four” que tentam resgatar “Silent Alarm”, como “Kettling” e “Day 4”; e, com boa vontade do ouvinte, por que não?

Aliás, o disco começa bem, com vigor, com “So He Begins To Lie” e “3X3”, mas é no primeiro single que tudo começa a desandar. “Octopus” é horrível e mostra um cacoete vocal curioso de Okereke: precisa mesmo começar quase todas as músicas sussurrando? Porém, nada, mas nada (sublinho o “nada”), nada é pior do que “V.A.L.I.S.”. Que música tenebrosa! Pense no pior do pop adolescente e você nem precisa ouvir “V.A.L.I.S.”.

Desistir aqui é uma boa ideia. O disco não vai melhorar de forma alguma e ainda faltam quatro canções, incluindo a inclassificável “Team A”.

Faça o que o Bloc Party não teve coragem de fazer: desista – se eles não vão parar, pare com eles.

NOTA: 4,0
Lançamento: 20 de agosto de 2012
Duração: 43 minutos e 28 segundos
Selo: Frenchkiss
Produção: Alex Newport

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Comentários

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3 comentários

  1. Eu não compatcuo com a teoria de desistir antes de fazer merda – é um convite para se acorrentar pelo próprio talento. Mas eu partilho do “desista se não tá afim”.

    De fato, bem ruinzinho esse álbum do Bloc Party. Acho que esbarraram no que é o grande desafio fracassado por quase todas as bandas indies dos anos 2000 – se manter relevante ao longo do tempo.

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