Tem algo que paira sobre nós (e que realmente não é novo), mas que ficamos muito longe de definir o que é. Uma sensação de prisão mesmo podendo transitar por todas as ruas da cidade. No intenso rock do BUFALO (de São Bernardo do Campo – não confundir com a Búfalo de Santa Catarina), há o reconhecimento de elementos praticamente sempre comuns (comuns em termos; a introdução da faixa-título é muito técnica) mas que ainda assim são mais sombras do que luz. Melhor: é o invisível que sabemos que sempre está ao nosso lado (pro bem e pro mal). Não à toa, o caminho que a banda propõe está em algum lugar só alcançável pela nossa vista (o céu, por exemplo). Mas justamente em razão do fato do BUFALO preferir a distância que é possível tanta erradicação em cada uma das faixas.
Partir é sempre um início. Todo movimento encerra em si um começo. Um ato novo. E acompanhando certa novidade sempre latente está o invisível. Na terceira faixa, “Estradas”, este suposto invisível surge como algo que propulsiona os sonhos. É que o BUFALO sabe que nada é dicotomicamente simplista em qualquer coisa terrestre. E por isso o próprio instrumental varia de sessões técnicas até acordes mais típicos e menos ambiciosos. O discurso da banda é inerente ao ambiente que as potências das distorções criam; basta alguns acordes pra que o BUFALO te arraste em um disco que não vai te deixar na mão em nenhum minuto de audição.
É aquele tipo de música que você fica esperando como será conduzida a próxima sessão, o que os instrumentos vão fazer etc. Embora com menos experiências sonoras que o antecessor, “Pontes” (de agosto de 2015), “Pareidolia” conta com muitos afastamentos de qualquer suposto núcleo mostrando que a mensagem da banda de nenhuma forma foi reduzida. Ou seja, não se perde nada da música relativamente ousada no primeiro disco e as sessões mais “diretas” estão realmente mais incisivas.
Não é como se as canções negassem a confusão mas também não é como se elas tratassem apenas do incerto. No mundo do BUFALO as digressões homogeneízam polaridades limítrofes pra deixar bem claro que, pra eles, tudo inevitavelmente caminha pra um mesmo lugar.
Pareidolia versa sobre ir de encontro a algo. É aquela velha lógica de “tentar agora, senão é tarde demais”. Mas mesmo a escolha propriamente dita de “ir” deixa algumas confusões e tantas incertezas. Mas se tudo isso é uma competição feroz, partir é necessário pra sobreviver (isso em todas esferas: emocional, psicológica, física).
“Narcosa”, a última faixa, é o ponto mais radical do disco e onde a dissonância intensa da guitarra retalha em conjunto com um eu-lírico nitidamente confuso. Melhor: ele tem a certeza da impossibilidade de significação precisa de tudo o que o cerca. A confusão é tratada como um elemento que transforma as coisas, como uma ignição que propulsiona uma vivência, em certo ponto, mais intensa. Lógico, se os rapazes da BUFALO não fossem sinceros o suficiente pra admitir tudo isso, só haveria uma música clonada, uma cópia. Eles têm o direito de sentir-se confusos e passar a aleatoriedade pressentida tanto em versos quanto em música. Eles concluem um disco e um tema. E seguem em frente por caminhos não menos complexos.
—
1. Suando A Febre
2. Pareidolia
3. Estradas
4. Ancient
5. A Fé E A Espada
6. Planalto
7. Narcose
—
NOTA: 7,0
Lançamento: 8 de agosto de 2016
Duração: 31 minutos e 05 segundos
Selo: Independente
Produção: Marcus Ariosa, Bernardo Pacheco e BUFALO