Sem metáfora nenhuma, o Concreto Morto decide voltar com seu novo EP. Eu me senti como se essa realidade que existe fosse usurpada; como se todos aquelas ideias cyberpunks de distopia estivessem acontecendo com as projeções que eu mesmo tinha. E nem digo de projeções antigas, falo daquilo que imaginava meses atrás.
O Concreto Morto brutalmente poetiza essa perda brusca que aparentemente caracteriza qualquer vida. Os berros, a influência do noise no screamo (eles são a única banda do Brasil a fazer este tipo de som), toda a construção de “Medo Da Astrologia” revela um afastar radical das expectativas, nos consumindo em ansiedade e outros transtornos.
Há algo na composição da banda que tornou todo o processo de letras mais intimista. É como se as pouquíssimas certezas que existissem no sujeito de “Viver-Só” (primeiro disco da banda, lançado em 2014 – ouça aqui) fossem esfaceladas. Há também certa “celebração’ (se é que podemos usar tal palavra pra este disco) em ainda visualizar encontros possíveis e se aproximar dos afetos que eles permitem. A organização social e as músicas mais, hum, “panfletárias” (entre várias aspas) ainda aparecem, como em “Corações Sujos”.
Ouça na íntegra:
“Medo Da Astrologia” é o terceiro registro da banda curitibana, o segundo só em 2016 (o outro foi “A Necessidade De Produzir Sempre Foi Antagonista Do Desejo De Criar” – ouça aqui). É um disco rápido e urgente – não por velocidade ou duração, mas por necessidade de exteriorização, sem estruturação.
O caminho escolhido aqui em “Medo Da Astrologia” parece ser ainda mais sombrio do que os antecessores e nele vemos um perigoso desligamento do indivíduo. Alguém com medo do porvir, uma nostalgia falsa (ilusões? Sonhos? Expectativas?) perigosamente se desestruturando. Com plena certeza de que a recorrência da queda é eterna.
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1. Fim
2. Medo Da Astrologia Pt.2
3. Quando Antecipação Da Ansiedade Consome A Expectativa
4. Colecionador De Rochas, Geólogo Com Amnésia
5. Plataforma 16
6. Corações Sujos
7. UVB-76
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NOTA: 7,5
Lançamento: 6 de julho de 2016
Duração: 10 minutos e 48 segundos
Selo: Bichano Records
Produção: Concreto Morto