RESENHA: CV – II

Nas produções de Thiago Miazzo (e cv é mais um dos infinitos alter-egos dele), há uma constante espécie de ruído permanente que parece frequentemente negligenciado se encarado do ponto de vista mais tradicional. Por mais que esta constância soe em cada projeto de um modo (“II” é completamente diferente de “Strict”, do Pallidum, por exemplo), a continuidade caracterizada pelos chiados guiam espectralmente o ouvinte numa imposição densa pela parte do músico.

Ouvir seus projetos é como sintonizar uma frequência AM assombrada, que proporciona a quem é surpreendido pela sua insistência um redirecionamento que tem como guia algum som estranho. Ele monta este plano que está frequente no dia-a-dia mas quase impossível de registro pela ultravelocidade das coisas. Os momentos-eternos, pra além da idealização sentimentalista de eternidade, são flagrados em movimento puro, no caos disfuncional, em sua calmaria hesitante e em frequências desordenadas.

Em seus momentos mais intensos, principalmente na faixa “ii”, o submundo erguido por Miazzo parece um culto secreto onde não há ninguém presente. Talvez, realmente, um (por assim dizer) “momento-eterno” só apresenta seu vigor físico (o chiado constante) quando não há alma para testemunhá-lo.

O aparente mal funcionamento dos objetos dados em “ii” aparentam confrontar a calma imposta na primeira faixa, “i”. É como se o mesmo objeto utilizado na peça “i” estivesse saturado e esgotado na peça “ii”. A continuidade, de modo que é tradicionalmente encarada, sofre um colapso e entra em repetição eterna, possivelmente nunca mais voltando a ser o que era.

1. i
2. ii

NOTA: 8,0
Lançamento: 9 de maio de 2017
Duração: 20 minutos e 35 segundos
Selo: Independente
Produção: Thiago Miazzo

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