UM VIVA AOS OBSESSIVOS!
Um homem tem que ter suas obsessões. Uma que seja. É saudável. Mas a psiquiatria não concorda plenamente com essa afirmação. Chama de paranoia quem tem ideias fixas, ou é obcecado por uma emoção, pessoa, ato, ideal. E dá nome a essa paranoia: monomania.
“Monomania” é também o nome do sexto disco de estúdio do Deerhunter de Bradford Cox, um sujeito que ninguém colocaria a estampa de “normal” na testa.
Então, qual seria a obsessão de Cox? Musicalmente falando, “Monomania” nem é um disco de parco espectro de soluções, com foco definido. Há um bom leque. Talvez Cox esteja inclinado a disco após disco experimentar com a sujeira, em incomodar os ouvidos acomodados e provocar. Se essa for sua ideia fixa, musicalmente, é uma das obsessões que valem a pena nutrir.
O álbum tem doze canções e mais da metade delas é bastante acessível, apesar da sujeira que os vocais e as guitarras se envolvem. Como quase tudo no Deerhunter, nada é quadradão. Nem canções altamente pop como “Sleepwalking” e “T.H.M.” (a sigla pra trihalometano, uma substância encontrada em refrigerantes, mas que é poluente e dizem ser cancerígena), com um tema pesado, são entregues dentro dos padrões “FM”. São de fácil assimilação, mas com uma roupagem “torta”.
O disco já começa assim… estranhamente pop. Em “Neon Junkyard”, Cox sussurra displicente, quase arrotando algo, arrastado, um vocal propositadamente preguiçoso, o cerne de uma obsessão: “tudo está como sempre foi / agora não há mais nada pra ser mudado”. Aí, vem a explosão de “Leather Jacket II”, mudando o que a canção de abertura apresentou, subvertendo a teoria apresentada na anterior. Cox está inclinado, mais uma vez, a nos confundir.
Quando surge “The Missing”, o Deerhunter começa a traçar o caminho pop que se propôs nesse disco, alterando o rumo do disco novamente. “Pensacola”, uma das melhores do disco (junto com “Back To The Middle”), é um rockão sujo, divertidíssimo, o playground do álbum.
Ouça “Back To The Middle”:
Tirando a monomania de Cox, “Monomania” tem curiosamente seus melhores pontos justamente nas canções pop, digeríveis, embora a faixa-título seja um estrondo ruidoso, cheia de noise pra alegrar fãs antigos e pra divertir as obsessões de Cox. Ele acertou na “experimentação”, por assim dizer, seja no pop, seja no experimental. Bradford Cox ainda é o cara.
Apesar de tudo, o disco é irregular. As duas faixas finais, “Nitebike” e “Punk (La Vie Antérieure)”, destoam, com a primeira parecendo um ensaio do autor, ao violão. Aqui, o incômodo acontece pela inspiração flácida.
Mas Bradford Cox e sua banda chegam ao fim de mais um trabalho com a missão cumprida: a música pop pode ser provocadora, intensa e diferente. Não precisa ser broxa. “Monomania” cumpre bem o papel. Só não sei se é suficiente pra banda. Tomara que não, aliás: que ela continue obsessiva nessa questão.
Ouça “Monomania”:
NOTA: 7,0
Lançamento: 7 de maio de 2013
Duração: 43 minutos e 31 segundos
Selo: 4AD Records
Produção: Nicolas Vernhes