RESENHA: FBC – PADRIM

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Se a música fosse apenas um escapismo, ela não teria essa ocupação da realidade como forma de desafiar uma verdade que parece cobrir todas as castas da existência. Lançamentos, mais especificamente no trap, identificam um cotidiano repetindo-o em vozes insistentes, muitas vezes computadorizadas, para colocar determinado privilégio como paisagem essencial cuja estrutura será continuamente desafiada, moendo suas entranhas até evidenciar uma hipocrisia reinante em todos os discursos moralistas. Mesmo no reino digital do irreal, o fingimento dos “boys da void” tem uma determinação segregacionista.

O segundo disco do trapper mineiro FBC manuseia graves pesados e sintetizados com flow mais lento que não recusam uma violência vocal que surge da garganta.

Faixas como “CONFIO” têm carga de orgulho e desafio, pertencentes ao mundo tido como paralelo que jamais vai sucumbir a qualquer poder reinante. Se morrer não é uma alternativa, não é sem celebração que os desafios são elaborados e completados.

Ouça na íntegra:

A exploração de FBC rejeita dualidades conflitantes, como se a resistência anulasse o prazer de viver as coisas boas etc. niLL e o melhor da cena de trap brasileira revelam prazeres através de discursos introspectivos, que medeiam uma relação complicada e perigosa com o mundo, através da organização do caos externo e a partir de um fluxo de consciência que fala de profetas, lados do muro e juventude. “Padrim” atrai essa estética com influências do rap 90 pra descrever uma esperança de superação que se desenha em todos os ritos do cotidiano.

Enquanto você admite a necessidade do outro, você ainda transpõe o plano de isolamento moderno porque as projeções são constituídas solidariamente. Ainda assim, o outro é um engano constante que vacila e te oferece motivos para ficar distante. O único que te propulsiona a ser melhor, no entanto, também é o outro e é dessa relação de necessidade que as letras falam, ainda que em meio a todos os vários problemas acumulados durante o disco.

Ser alguém melhor é difícil e “Padrim” é um álbum sobre as duras tentativas de conquistar tal ascensão.

01. Deus Abençoa
02. Money Manin
03. Assim Que Se Sente
04. Capa 3
05. Iphone
06. Confio
07. THC
08. $enhor
09. Se Eu Não Te Cantar
10. Ode A Tristeza

NOTA: 8,0
Lançamento: 15 de novembro de 2019
Duração: 32 minutos e 03 segundos
Selo: FBC
Produção: Go Dassisti

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