AS MESMAS MÚSICAS, A MESMA EFICIÊNCIA
Tenho o irritante defeito – bem… eu considero um defeito – de não guardar os nomes das pessoas às quais sou apresentado nas montanhas-russas sociais. Lembro dos rostos, mas não dos nomes (nem do que conversamos, se a conversa não for minimamente interessante). Tem gente que até hoje não faço a menor ideia do nome, mas cumprimento, troco meia dúzia de palavras, como vizinhos e afins. Na outra ponta, há quem tenha o dom de bater o olho em alguém e saber nome, sobrenome, lembrar em que situação conheceu a pessoa, o que ela vestia, sobre o que conversaram, se é casada, namora, no que trabalha etc. Acho louvável.
Até porque esse defeito se estende a outras áreas da vida. Como a música. Sou capaz de ouvir um disco, cantarolar as letras de todas as músicas, mas não me lembrar exatamente os nomes delas, embora saiba o título do disco (e seu ano também). É aquele famoso “não ligo o nome à pessoa”. E vice-versa.
Pode ser ruim no dia-a-dia profissional e social, mas no caso da discografia do Franz Ferdinand não faz diferença. Isso porque a banda tem a capacidade recorrente de gravar as mesmas músicas, em poucas variações, e a maioria delas parecerem muito boas. Há os arrasa-quarteirões pras incendiar pistas; as que começam lenta se de repente oferecem uma levada chacoalhante; as lentinhas ou meio lentinhas; e por aí vai. São sempre as mesmas músicas. Mudam apenas os nomes. E mudam os discos.
Sorte dos fãs. O Franz Ferdinand não tá nem aí se você liga o nome à pessoa, quer só que você se divirta enquanto ouve um disco. Que pode ser esse disco ou aquele, não importa. Pode ser até uma coletânea, quem se importa? Todos os hits estarão lá de qualquer maneira… E você nem precisa saber qual é qual, até porque não são poucos e seguem todos a mesma fórmula eficiente de entretenimento. Que banda da “nova geração”, a “geração milênio”, consegue a proeza de tantos sucessos em cada um dos seus discos? Nenhum álbum do Franz Ferdinand é perfeito. Não precisam ser. Eles são bons enquanto duram esses sucessos dentro do disco.
Em “Right Thoughts, Right Words, Right Action”, o quarto disco dos escoceses, sucedendo “Tonight: Franz Ferdinand”, de 2009, que é lembrado principalmente pela balançante “No You Girls”, a banda nem pensa em fazer suspense. De cara, três canções implacáveis pra você bater pé, balançar a cabeça, rebolar, assobiar, estalar os dedos, se pegar cantarolando: “Right Action”, “Evil Eye” e “Love Illumination”.
Vídeo oficial de “Right Action”:
Vídeo oficial de “Evil Eye”:
Quantas bandas dariam um braço ou fariam um pacto com o Coisa-Ruim numa encruzilhada qualquer por ter essas três canções no currículo? Ou ainda “Fresh Strawberries”? Ou ainda a “ousada” (pros padrões do grupo, por experimentar passagens diferentes e não ser tão direta) “Stand On The Horizon”? Ou por “Jacqueline”, “Tell Her Tonight”, “Take Me Out”, “The Dark Of The Matinée”, “This Fire”, “Do You Want To”, “Walk Away”, “Outsiders”? Tanto faz. São todas a mesma música ou algo do tipo, flutuam sobre a mesma ideia, a mesma fórmula pra se tornarem o implacável hit radiofônico: guitarras suingadas, baixo marcante, adornos eletrônicos, bateria dançante. Poucas bandas são bem sucedidas como o Franz Ferdinand nesse sentido.
Se você não é fã xiita e não tem paciência, tudo bem, não se preocupe em ouvir o disco na íntegra. Tem, como esperado, coisas dispensáveis. Por outro lado, se você não for até o fim perderá a curiosa “Brief Encounters”, com seu início meio Neu!, meio Kraftwerk, seguido por uma levada um tanto pop brasileiro oitentista. Não creio que a história irá lembrar do nome dessa – nem da chatinha “Goodbye Lovers & Friends”, nem dessa ou daquela ou daquela outra.
Não importa. “Right Thoughts, Right Words, Right Action” cumpriu seu papel: as pistas e rádios se alegram no presente e a gravadora tem mais um bom material pra coletâneas comemorativas no futuro.
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NOTA: 6,0
Lançamento: 26 de agosto de 2013
Duração: 35 minutos e 09 segundos
Selo: Domino Records
Produção: Joe Goddard, Prince House Rabbit, Alexis Taylor, Todd Terje, Björn Yttling