RESENHA: GODSPEED YOU! BLACK EMPEROR – ALLELUJAH! DON’T BEND! ASCEND!

São dez anos entre um disco e outro. O Godspeed You! Black Emperor é tido com um ícone no post-rock e o lançamento de “ALLELUJAH! DON’T BEND! ASCEND!”, meio de sopetão, de surpresa, causou espanto na comunidade de entendedores do assunto, a da Sinewave, no Facebook.

As reações imediatas, como de qualquer fã, foram superlativas, antes mesmo da primeira audição. Será que a banda-ídolo resistira ao teste de ser ouvida, com seu novo trabalho? Será que a euforia resistira às seguidas audições?

O resultado desse questionamento está nessa resenha coletiva do disco, realizada por três entusiasmados participantes.

ALDO HANEL
Dez anos depois do último disco, o Godspeed You! Black Emperor (Godspeed, daqui em diante) retorna com seu quarto álbum, “ALLELUJAH! DON’T BEND! ASCEND!”. A fórmula é a mesma: composições longas, crescendos, drones e um clima sombrio e pessimista – e é o grande trunfo da banda que, mesmo seguindo o mesmo estilo, consegue sempre inovar.

Apesar das duas suítes do álbum já serem conhecidas pelos fãs das bandas, pois eram tocadas ao vivo, sob o nome de “Albanian” e “Gamelan”, as duas faixas que chamam a atenção são os drones que introduzem as músicas. É onde a banda mostra que esse período longo de hiato, dedicado a centenas de projetos paralelos, realmente trouxe algumas novas características ao som.

Uma mistura do clima sombrio do primeiro disco, “F?A??”, com a agressividade do segundo disco, “Lift Your Skinny Fists Like Antennas To Heaven”, indispensável pra qualquer apreciador de boa música.

Nota: 9.0

GUSTAVO BERTASSOLI
Sempre tive a impressão de que o Godspeed You! tinha toda uma aura sagrada em torno de sua história. Talvez porque eu os tenha conhecido após terem acabado, isso sempre resulta em santificar algumas bandas. Nesse caso não foi diferente, ainda mais com o legado incrível que foi deixado. Apenas quatro álbuns até então, todos próximos da perfeição, opinião geral, não apenas minha.

Pois bem, em 2010 o GY!BE voltara pra alguns shows. A emoção dos fãs do gênero veio à tona, o nome mais admirado do post-rock estava vivo. Eis que pegando todos de surpresa neste mês de outubro, em um dia fora anunciado que um novo álbum viria ao mundo, no dia seguinte ele já estava na Internet pra nosso deleite.

Impossível não ouvir com as expectativas lá no alto, ainda mais após longos dez anos. Mas bem, “ALLELUJAH! DON’T BEND! ASCEND!” conseguiu superá-las. Este é provavelmente o disco mais “rock” do grupo, mas ainda tem todos aqueles elementos que esperamos, duas faixas épicas com seus quase vinte minutos (que passam num piscar de olhos), todo aquele instrumental extremamente detalhista e bem trabalhado de sempre, alguns passeios por elementos de música oriental, além de claro, vários outros experimentos, uma dose de drone aqui e acolá, e assim, de surpresa, surgiu o talvez mais forte concorrente ao melhor álbum do ano.

Nota: 9.5

Ouça “We Drift Like Worried Fire”:

ELSON BARBOSA
A informação surgiu do nada – GY!BE está com um novo álbum no forno, com lançamento previsto pro mesmo instante em que a notícia era retuitada. A existência do disco foi anunciada numa segunda-feira à noite, com o disco já pronto e sendo vendido em um show que a banda fazia em Boston, nos EUA. Horas depois já pipocavam links pra download do vinil ripado. Em uma época em que tudo é trending topic, é surpreendente que uma banda do porte do Godspeed tenha gravado, mixado, masterizado e prensado um novo álbum sem nenhuma informação vazar. Pacto de silêncio é isso.

Ao disco, enfim. De início, “ALLELUJAH! DON’T BEND! ASCEND!” não traz propriamente muita novidade. As duas principais faixas – “Mladic” e “We Drift Like Worried Fire”, ambas com cerca de 20 minutos de duração – são velhas conhecidas dos fãs hardcore que ouviram bootlegs de shows recentes da banda. E as duas faixas restantes – “Their Helicopters’ Sing” e “Strung Like Lights At Thee Printemps Erable” – são drones de seis e oito minutos cada. Belos e hipnóticos drones, mas não propriamente canções. Foquemos nas de 20 minutos.

“Mladic” é estupenda. Da abertura climática com gaita de foles, passando pelo destruidor trecho com cores orientais, até atingir o ápice da peça (mais que uma “música”, é uma “peça”) em uma estonteante escala descendente soterrada por toneladas de noise, “Mladic” tem méritos suficientes pra concorrer a um proverbial Top 5 da banda. “We Drift Like Worried Fire” já é um pouco menor. Algumas ideias lá no meio se aproximam de lugares-comuns que lembram até Explosions In The Sky (o que é um demérito – trata-se do Godspeed for Christ’s sake, a expectativa é não menos que a perfeição). Mas o crescendo na segunda metade da peça até a sua coda é aterrador, digno dos melhores momentos do “Lift Your Skinny Fists”.

Dá pra defender a tese de que foi fácil mostrar serviço. Não só pelo anúncio-surpresa, não só por “Mladic”, mas também porque 2012 foi um ano relativamente fraco pro post-rock. Mono fez um disco exageradamente mais-do-mesmo, Sigur Rós mais uma vez desapontou, e outras bandas como pg.lost, If These Trees Could Talk, Caspian, From Oceans To Autumn e You May Die In The Desert lançaram discos corretos sem grandes novidades. Crippled Black Phoenix talvez tenha sido a exceção, com diversas novas ideias no seu “(Mankind) The Crafty Ape” (e ainda com um novo EP a caminho – os caras não param). Mas pro Godspeed, a tese não se sustenta. Porque Godspeed é outro nível. É Arte.

Nota: 9.0

Ouça “Mladic”

FERNANDO LOPES
Pra mim, é fácil falar do Godspeed You! Black Emperor. Não sou fã da banda, nunca mergulhei de cabeça no universo dela – apenas conheço a obra, com certa distância – e nem sou um aficionado por post-rock. Mas o furor causado em torno de uma banda digamos… adulta, causa-me uma curiosidade difícil de demover. Com o mesmo entusiasmo com que li os superlativos adjetivos em torno da obra ainda não devidamente degustada, fui ouvi-la.

Agora, imagine um não-iniciado prestando atenção nessas maratônicas obras. Há duas saídas possíveis: odiar profundamente ou amar incondicionalmente. Quer dizer, deve haver um espectro de sensações mais intricado aí, entretanto os extremos nos servem por ora. É preciso ao não-iniciado uma óbvia força de vontade pra não dispersar. É um disco pra se ouvir com atenção, sem desvios, sem outras atividades paralelas.

Caso contrário, a música pode se tornar incidental, preenchendo os espaços a quem não suporta o silêncio ou os barulhos ambientes da vida moderna. E pode irritar. Não é aconselhável. Por outro lado, com a atenção devida, tem-se um disco curioso – e grandioso. O começo insone de “We Drift Like Worried Fire” engana, porque o final ensurdecedor concorre com a força rítmica e de ruídos poderosos de “Mladic”, uma das músicas do ano.

Teoricamente, bastam essas duas canções pra que o ouvinte não-iniciado tome seu partido. “Their Helicopters’ Sing” e “Strung Like Lights At Thee Printemps Erable”, perto de suas companheiras, pouco podem fazer pra mudar alguma coisa, embora se a resposta já tenha pendido ao positivo, elas sejam agradáveis exercícios de experimentação lisérgica.

O Godspeed You! lançou o disco na surdina, de repente, sem alarde. A ideia talvez seja que a música fale mais do que a promoção em torno da música. A obra tem que de comover de bate-pronto. O que a música tem a dizer, ela fala direto, sem intermediários. Deu certo: é um disco muito bem sucedido. O GY!BE acertou em cheio, seja você fã, iniciado ou não.

Nota: 8.5

NOTA: 9,0 (média)
Lançamento: 1º de outubro de 2012
Duração: 53 minutos e 10 segundos
Selo: Constellation Records
Produção: Thierry Amar, David Bryant, Howard Bilerman, Efrim Menuck e Mike Moya

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