Quando eu apertei o play nesta curta mixtape e os primeiros beats ecoaram em uma espécie meio que abstrata de som, resvalando no smooth jazz, eu senti uma espécie de calma. E isso foi num momento bem importante, mesmo. Era uma madrugada insone e o rap da dupla ajudou a desacelerar o ritmo ansioso.
Quanto à dupla, eu não tenho muitas informações, mas eles ousam dentro de certa estrutura teoricamente tradicional; porque a rebelião está no que se fala e no som que é produzido, em um contexto social opressivo (tanto em escala política quanto psicológica) e é através das suas poucas armas que os MCs escapam dos labirintos da realidade, dos quais aparentemente todos estão fadados.
O mundo no qual se está lançando é pretexto o suficiente pra forçar uma interação entre ouvinte e poética urbana da dupla. Os conceitos são ampliados e a sonoridade é bem honesta; ela não interage com o ouvinte através de simulações grotescas, ao invés disso opta por uma aplicação suave, muitas vezes resvalando no chill out. As letras não são tão suaves assim; utilizam metáforas, referências e, principalmente, a realidade pra estimular todos os tipos de interações.
Não apenas é uma repensada abrupta sobre a situação que os MCs se encontram, mas uma busca por “sentimentos” através de rimas diversas, travando uma batalha contra o ambiente do excesso pra dizer algo que tenha um valor próprio.
“CELDY” é produzido com batidas pontuais e variação vocálica, abordando vários temas em cada uma das curtas faixas. Recusando quaisquer fórmulas que deixam a sonoridade mais “polida” e mesmo assim primando pela produção de suas batidas. Parece meio que controverso e não teria como ser de outra maneira considerando que é, nitidamente, uma mixtape que dialoga com situações emergenciais e a produção do hip hop contemporânea.
É um caminho sem indicações, em que só é possível olhar pra frente e ver um enorme horizonte confuso sem qualquer explicação plausível de como chegar no ponto em que se chegou. Se “tudo foi regresso”, há a consciência de que dá pra seguir de outro jeito. Aproveitando o microfone, com as poucas ferramentas à disposição, pode-se fazer muito e “CELDIY ” é uma pequena amostra desta potência.
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NOTA: 6,5
Lançamento: 27 de janeiro de 2017
Duração: 18 minutos e 32 segundos
Selo: Independente
Produção: Gvtx