RESENHA: HEROD – UMBRA

DAS SOMBRAS À LUZ

É curioso que esse disco se chame “Umbra”. A escuridão a que se refere o conceito e o título da obra caminham no sentido oposto do que de fato a banda oferece musicalmente nesse momento. Causa uma estranheza.

Pra quem acompanha a Herod Layne há tempos, ou pelo menos desde o disco anterior, “Absentia” (2010), irá notar aqui uma outra banda, ou quase isso. Não terá sido apenas impressão. A Herod Layne já não existe mais.

Pra começar, agora é só Herod, sem o “Layne”. E “Umbra” mostra que tal mudança faz sentido, não só porque já fazia sentido no dia a dia (todos só se referiam à Herod Layne como “a Herod”): o nome abraçado do primeiro single lançado pelo Pink Floyd, lá no longínquo 1967, “Arnold Layne”, já não tem muita sustentação. Com a adição do enérgico guitarrista Lucas Lippaus, o som ganhou peso e algumas estripulias. Pink Floyd ainda mora no coração deles, mas há espaço pra diversidade.

A primeira prova disso é “Collapse”, direta, reta, de rife, curta, forte e viril. É pra bater cabeça. É a luz.

Veja o vídeo de “Collapse”:

Antes dela, tem “Penumbra”, abrindo disco com noises oferecidos por Cadu Tenório, do VICTIM!, Sobre A Máquina e Ceticências. “Blinder” é um darkgaze curioso e circular, com participação vocal de Filipe Albuquerque (da Duelectrum). A música é envolvente e segmentada, oferecendo um arco flutuante de guitarra e um clímax explosivo.

Chegar até aqui é já perceber que não é a mesma Herod, onde a reverência ao post rock não é mais tão prioritária. Ele existe, é claro, talvez sempre vá existir, como o nó de sustentação do grupo, mas a Herod ganhou outros suportes sonoros.

Aliás, está nessa outrora reverência o tropeço do disco, na arrastada e sem corpo “Silêncio” (e no seu prolongamento, “Atumbra”), com guitarras batidas e soluções idem dentro do estilo (os óbvios crescendos, principalmente). A música não vale seus oito minutos, embora não seja exatamente ruim. Pelo contrário, ela só destoa levemente do todo, já que o todo procura novos caminhos. É que mesmo esse leve “destoar” incomoda.

Porque a luz que “Umbra” traz nos caminhos da banda já não servem a mesmices, e o próprio quarteto sabe disso (quinteto, se contarmos a importante presença do produtor Joaquim Prado, o Joca, com sintetizadores em “Penumbra”, “Blinder”, “Antumbra”, “Umbra”; e guitarra em “Collapse”, “Limbo”, “Umbra”).

Os dois maiores exemplos disso são os extremos do espectro que “Umbra” apresenta: da escuridão do passado, com a épica faixa-título, arrasadora, representando a razão de ser do grupo até esse momento da história; à luz do recomeço, com a estupenda “Limbo”, um (pós) punk rasteiro e sujismundo, dividido em duas partes, sendo a primeira protagonizada pelo fiapo de voz de Jair Naves (por conta dos três takes necessários pra gravar a participação), por sua poesia e pelos rasgos de guitarra de Sacha Ferreira e Lippaus.

Assim, surgiu uma nova banda. Foram três anos de gestação, de maturação embrionária, a pressão pelo disco cuja produção nunca chegava a um ponto final. Valeu a pena. O esforço prolongado não foi em vão. O som que era sombrio em “Absentia”, agora é iluminado.

“Onde não há luz, não há sombra…”, diz o descritivo de “Umbra”. A correta leitura que se deveria fazer aqui é indicada pela ousadia de uma banda que buscou mais do que a reinvenção, criou um renascimento: não havia luz, agora há. Antes era tudo sombra, útero, agora há o mundo todo.

(Pra baixar o disco, na faixa, é só clicar aqui e ir ao site da Sinewave – veja também o belo encarte virtual, via Issuu, de vinte páginas, com as letras, créditos e imagens sensacionais que retratam o conceito do disco)

1. Penumbra
2. Collapse
3. Limbo
4. Blinder (clique aqui pra ver o vídeo)
5. Lumia
6. Silêncio
7. Antumbra
8. Umbra

NOTA: 8,5
Lançamento: 5 de setembro de 2013
Duração: 45 minutos e 40 segundos
Selo: Sinewave
Produção: Joaquim Prado

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