RESENHA: IMPOLUTO – LILIUM (EP)

Impoluto é uma dupla de Curitiba que, imediatamente, impõe uma massa densa ao ouvinte e repetições que perseguem a memória mesmo depois do disco ter acabado. Claro, o nome do duo contrasta com o que se ouve em primeiro plano, mas o que mais me chamou a atenção em “Lilium” (o segundo lançamento, que chega sete anos após “Impoluto”, de 2010) foi a forma que todo o ritualismo velado ganha dimensão, surgindo de outras delimitações sonoras.

Aliás, isso foi tão marcante pra mim (a maneira que o livre improviso sinistro parece conviver com composições rígidas) que eu tive de percorrer os outros lançamentos deles no Bandcamp e ficar surpreso por encontrar um corpo sonoro quase total, em que a música industrial, noise e o livre improviso personificam dois músicos com marcantes personalidades criativas.

A “narrativa” submersa na dissonância caótica dá-se através de cantos tribais em cima, por exemplo, de uma espécie de “piano perdido” que não direciona exatamente os cantos, mas se confraterniza de seus movimentos dispersos. E quando você começa a ouvir com atenção essas peças, toda a desorganização que elas sugerem se demonstram como fragmentos de um todo impossível de uma associação plena – por exemplo, as batidas de bateria (?) que invadem a terceira faixa, “Mary Ann Nichols”, e recondiciona o desenvolvimento da peça pra um lugar completamente imprevisto. Clima tóxico, ruídos esparsos, repetições robóticas – essa representação múltipla do que dissolve que impregna o ambiente em toda a audição de “Lillium”.

O que parte da crítica contemporânea entende como música “esparsa ou exotérica” na verdade recondiciona o ouvinte a um trânsito frequente entre múltiplos acontecimentos simultâneos. Não importa quais tags eu tenha utilizado nesta análise, elas só dão uma (rasa) dimensão da estrutura vital de “Lillium”. No papel, isso tudo soa mais teórico do que eu gostaria, mas a audição deste álbum é um processo em que a suspensão do ouvinte e o espanto perante a quantidade de coisas são capazes de abrir cômodos não descobertos, inóspitos.

1. Lilium
2. Dádiva
3. Mary Ann Nichols
4. 1888

NOTA: 8,5
Lançamento: 16 de maio de 2017
Duração: 30 minutos e 30 segundos
Selo: Independente
Produção: Impoluto

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