RESENHA: INVERNESS – IVANA

Ivana entrou pra história. A personagem que dá título ao terceiro disco do Inverness existe e deve estar orgulhosa do produto que está dentro da capa que estampa seu nome. E do presente que recebeu do seu apaixonado namorado.

A história começou em 2011, quando a banda resolveu abrir financiamento coletivo pra levantar grana pro disco. Uma das recompensas era “o nome do disco novo será o seu nome” – e pela bagatela de R$ 800,00. Alguém comprou a cota. E o que se descobriu é que a compra era uma declaração de amor. Essa história de amor por trás do título vale ser lida, e só não acaba mais importante do que o disco porque o trabalho final se saiu muito bem.

O que pesa mesmo sobre o disco é o tempo. Com exceção de “Nestling Deep (In The Soul Of Kindness)”, todas as faixas são de 2011 e muitas delas já vinham sendo tocadas em shows, o caso de “See You In The Morning”, “Rise Up”, “Paper Shadows” e “Fear Of Rain”. Elas são testemunhas e cobaias da transformação pela qual a banda passou durante o percurso do álbum.

Lá no começo de 2011, o Inverness ainda era aquela banda do ótimo “Somewhere I Can Hear My Heart Beating”: psicodélica, meio shoegaze, introspectiva, um tanto ruidosa. Essas canções começaram desse jeito, com o auxílio do sampler que vinha marcando o grupo desde o começo. Mas, aos poucos, o sampler foi sendo deixado de lado, com a ideia de transformar as guitarras e as melodias em protagonistas da trama.

“Ivana” foi marcado por essa transformação. As quatro canções citadas terminaram “cruas” e “limpas”, com as duas guitarras tomando a dianteira, bem como as vozes de Lucas de Almeida e Mateus Perito.

Funcionou porque a transformação se mostrou pouco bruta. Não se nota sem ouvidos tão atentos. “See You In The Morning” começa com o termômetro da alegria lá em cima. As guitarras encobrem a voz, que se esforça pra mostrar a linha vocal. É uma das mais inspiradas do disco. Mas não por ser “alegre”, porque no todo “Ivana” é marcado por uma melancolia forte.

Embora as linhas vocais continuem sendo a marca registrada do Inverness, o instrumental segue cada vez mais determinante – destaque pra bateria quase escondida, vibrante e inventiva de Marcio Barcha. Os vocais possuem uma clara desafinação, que atribuem um charme inocente às obras e que, pra alguns, pode estimular uma irritação – e aí a exigência de que eles estivessem mixados abaixo da linha instrumental se torna mais forte; como se faz evidente na pretensiosa “Tyche’s Water Gun”.

O argumento é ainda mais fundamentado pelo recheio precioso que está ali no meio do disco e que emociona justamente pelas passagens sem vocais, como a lentinha “Nestling Deep (In The Soul Of Kindness)” e a psicodelíssima (e melhor do disco) “Let Ther Be Night”, sessentistas como o Inverness talvez sempre tenha pretendido ser; e como “From Circle To Circle”, que fecha o disco. “Tell Me If I’m Not Glad!” também se supera da metade pra frente, com as diversas camadas instrumentais criando um climão hipnotizante. “Paper Shadows” é noturna, daquelas pérolas pra se ouvir de madrugada, em silêncio, e o vocal derrapante ganha mais charme por conta da bela melodia.

(pra ouvir na íntegra o disco, clique aqui e vá ao final do post)

O Inverness não deve se envergonhar desses ou daqueles defeitos. Porque o público e os fãs não vão perceber – ou, se perceberem, vão relevar. No amor é assim: quando se encontra um defeito, os olhos tratam de minimizá-lo enxergando apenas as virtudes. E “Ivana” tem uma série de virtudes.

É mais um disco que o quarteto fez na raça, na paciência, a duras penas, por puro amor à música e às suas referências. Então, “Ivana” não poderia receber um título mais apropriado: sua história de amor por trás adorna os defeitos com o largo sorriso no rosto. Até a necessidade uma nova prova de amor. Mas até lá é só alegria.

NOTA: 5,0
Lançamento: 2 de novembro de 2012
Duração: 35 minutos e 15 segundos
Selo: Independente
Produção: Lucas De Almeida

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