ARMA PRA UM FUTURO MELHOR
O que Jack White faz de melhor na vida? Tocar guitarra? Compor? Marquetear, inventando traquitanas em vinil do seu selo, o Third Man Records?
Parece cruel dizer isso, depois de tanto tempo na estrada, mas a mim me parece que ele virou melhor empresário e marqueteiro do seu selo do que músico. O fã não deve me entender mal: acho, como diz um amigo meu, que ele é “o último grande guitarrista de rock que apareceu” com louvor. Por isso mesmo, sempre se espera mais dele.
“Blunderbuss”, o seu bacamarte contra a mesmice da música atual, é oficialmente o disco de estreia dele, mas não é exatamente a apresentação de um novo Jack White. A munição não é nova.
Há quem diga que “Blunderbuss” é um disco do White Stripes com todos os instrumentos. É, mas também o eram os do Raconteurs e do Dead Weather. Porque é tudo Jack White e ele sempre deu a cara a tapa, então, não há nada de novo aqui também nesse sentido.
Ok, ok, os pianos estão mais presentes e se fazem protagonistas, como na bela abertura de “Missing Pieces”, que logo é tomada por sua guitarra rica; ou na belíssima “Love Interruption”, uma das melhores do disco; e em “Hypocritical Kiss”. Isso é novo.
Mas é notório que é nas alusões ao White Stripes, como em “Sixteen Saltines” e em “I’m Shakin'”, com seus rifes contundentes e grudentos, que ele se sai melhor, ou pelo menos que o ouvinte se sentirá mais “em casa”. É a parte potente do disco, que decai na reta final, bombardeada por enormes pitadas de Beatles, mais presentes em “Hip (Eponymous) Poor Boy” e “I Guess I Should Go To Sleep”, e um tanto em “On And On And On”.
Mas o alvo de seu bacamarte, acredite, não é a música. Como compositor, ele não precisa mais provar nada a ninguém. O recado dele é pessoal. O alvo dele é pessoal.
Estão nas letras os maiores méritos do disco. O desprezo, os problemas de relacionamento, a falta de paciência a dois… Jack White está exorcizando seu casamento destruído (em 2011, com a modelo britânica Karen Elson). E, talvez, por isso mesmo, ele precisou fazer o disco sozinho. É o seu choro, sua lamentação.
Eis algumas amostras.
Em “Love Interruption”, ele se antecipa aos problemas: “I want love to, roll me over slowly/Stick a knife inside me and twist it all around/I want love to grab my fingers gently slam them in a door way, put my face into the ground/I want love to, murder my own Mother/Take her off to somewhere, like hell or up above/I want love to, change my friends to enemies/Change my friends to enemies and show me, how it’s all my fault”. Um homem apaixonado se submete ou não?
Veja o vídeo de “Love Interruption”:
Na estranha (a mais incômoda – no bom sentido – do disco) “Freedom At 21”, ele sofre: “Cut off the bottoms of my feet/Make me walk on salt/Take me down to the police/Charge me with assault/A smile on her face/She does what she wants to me”.
A faixa-título se mete aos tormentos: “And demons in your pocket that sang romance/Performed a dance inside a silver locket”.
“Sixteen Saltines” faz a pergunta pertinente: “Who’s jealous who’s jealous who’s jealous who’s jealous of who?”.
E por aí vai. Jack White estava sofrendo quando compôs e gravou tudo isso – ou talvez estivesse com muita raiva. Porém, ele passa pelo melhor momento da sua carreira. É um homem sério, é o patrão, o empregador, o fomentador de uma cena como ele sempre quis, descobrindo artistas do seu naipe, com um pé no blues, no country, no rock de raiz, sem interferências diretas de programas de computador, tudo na veia, na unha. Ele é o dono da bola.
E não tá nem aí do que vão achar disso, que comparações vão fazer, como canta em “Hypocritical Kiss”, “And I know the feeling’s strong/Strong enough to forget about all that I’ve been through/And it sounds obscene, but/Loud words never bothered me like they do to you”.
Ele não quer simplesmente esquecer o passado. Quer aprender com ele, como aprendeu musicalmente. Com o passado, está tudo bem. Ele só quer estar bem armado pra desfrutar um “novo futuro” daqui pra frente.
01. Missing Pieces
02. Sixteen Saltines
03. Freedom At 21 (clique aqui pra ver o vídeo)
04. Love Interruption
05. Blunderbuss
06. Hypocritical Kiss
07. Weep Themselves To Sleep
08. I’m Shakin’ (clique aqui pra ver o vídeo)
09. Trash Tongue Talker
10. Hip (Eponymous) Poor Boy
11. I Guess I Should Go To Sleep
12. On And On And On
13. Take Me with You When You Go
NOTA: 6,0
Lançamento: 24 de abril de 2012
Duração: 41 minutos e 50 segundos
Selo: Third Man Records
Produção: Jack White
A melhor resenha que eu li até agora. Mas achei o álbum chato e bem monótono…
[…] você gostou do “Blunderbuss” de Jack White, seu primeiro disco-solo oficial, já deve ter percebido que ao vivo ele funciona melhor, mais cru, […]
[…] músicas do White Stripes, do Racnteurs, do Dead Weather e do disco-solo de White, recém-lançado, “Blunderbuss”, além de coveres espalhadas. É um set que corrobora com a ideia de que, na verdade, todas as […]
[…] “Freedom At 21″ está no primeiro disco solo de White, “Blunderbuss”. […]
[…] White em mais um vídeo tirado do seu disco-solo, “Blunderbuss”. A peça visual pra “I’m Shakin’”, uma das mais chacoalhantes do disco, […]