Parece que o eu-lírico de “Queda Livre” (veja matéria aqui) tem uma sensação crônica de distância do “momento vivido”. Não que isso o impeça de frequentar lugares e contar histórias. Veja bem, em sua queda, há uma batalha constante de impedir que a sensação de distanciamento e alheamento tome conta dele. Tadeu quer confrontar esses temas porque eles pesam, mas ele não os usa como desculpa pra “reclamar”. O que ocorre no álbum é a contemplação durante a queda e a sensação, muitas vezes, de recuperação e retomada de controle. Tanto que o tempo (“depois de amanhã”) dimensiona a distância (“hoje”) e é no processo instável de estabelecer uma individualidade regular que as variações líricas e instrumentais surgem. Jonathan reconhece muitas vezes que ele cede, mas talvez todos os momentos em que o fracasso é admitido no disco, ele surja em torno de um “objetivo maior” que não fica claro. Mas é como se em um processo dolorido de ceder, algo belo (uma conversa com a pessoa amada) possa surgir. Aliás, o tal sujeito de “Queda Livre” tem uma tendência de “ser ganho” – isso porque ele está totalmente aberto aos acontecimentos e às histórias possíveis (boas e ruins) que podem brotar de cada encontro.
O sentido de distanciamento fica aprofundado em “Bastardo”, em que todo o delicado instrumental – as belas frases de guitarra, a bateria no ritmo dum Codeine – surge depois do questionamento principal, como se a própria sonoridade fosse uma extensão da pergunta, mais que afirmação de qualquer coisa. A afirmação surge depois, em “Amour”. O equilíbrio do álbum – melodias calmas e tempos lentos – é desestruturado pela aparição amorosa. Aos poucos, em sua obra, Tadeu vai dando pistas das coisas que apagam seu comportamento “distante”. Sua identidade fica exposta em cada intimidade compartilhada, mas todas as dúvidas que formam o músico nunca são maiores que suas (aparentemente) poucas certezas. Quer dizer, podem até serem maiores, mas nunca vão dissolver a integridade do sujeito que compõe canções como “Amour”. A transparência nunca foi um problema ao ouvir a música de Tadeu, mas em “Queda Livre” temos vislumbres do que rompe a distância pra Jonathan e, possivelmente, pra cada um dos ouvintes.
Desde a inicial “Quase” até a tocante e acolhedora “O Mundo É Um Lugar Bonito E Eu Não Tenho Mais Medo De Morrer” (cujo nome mais do que ser uma espécie de homenagem à banda norte-americana, é uma afirmação dos caminhos que levaram Tadeu a chorar com o sol nascendo, ou seja, de como seus caminhos o levam ao – mesmo temporário – rompimento da distância), tem-se um movimento de abandonar um estado de paralisia pra ser aberto à conquista das coisas (relacionamentos, ficar encantado com uma paisagem, saudade).
“Queda Livre” faz muito mais do que focar em momentos não tão felizes pra diagnosticar a distância em um sujeito. O álbum é um mapa de conexões afetivas que impulsionam o vivido pra momentos de vislumbres que lembram que toda a estadia terrena vale a pena. Ora, ele só poderia chorar com o nascer do sol ao esmiuçar momentos tão definitivos em sua vida de forma tão honesta.
NOTA: 8,0
Lançamento: 10 de maio de 2016
Duração: 39 minutos e 27 segundos
Selo: Independente
Produção: Jonathan Tadeu