INGENUIDADE BEM MEDIDA
Eu não conheço Katty Winne ao vivo, mas não é difícil se apaixonar por ela. Quer dizer, tudo bem que minha esposa me ouça, porque não é desse amor que tô falando. Até porque Katty Winne é, com “Molly Gun”, seu primeiro registro oficial, uma banda e não só a garota Katty.
Aliás, Katty Winne, a banda, é o trampolim pra arte da garota Katty Winne, o modo dela se expressar, já que ela não poderia tocar tudo sozinha. E também porque Márcio Junior, o produtor por trás do disco, e guitarrista no EP, entende perfeitamente as necessidades artísticas da moça. Montou-se, então, o time perfeito pra esse trabalho.
“Molly Gun” tem apenas cinco músicas, mas uma unidade impressionante pra quem está engatinhando. Digo, há uma identificação óbvia pra quem ouve pela primeira vez e não um malabarismo de referências. Aqui, ouve-se o que se acostumou chamar nos últimos anos de “indie”, do Weezer a Best Coast. Há até uma ingênua e perigosa aproximação aos reverenciados grupos – no limite da adoração que sugere imitação e falta de personalidade.
Mas, não. “Molly Gun” tem mais personalidade, talvez, que esses originais. Sem exagero. Porque é fácil identificar Katty Winne (com Márcio Junior no arranjo das ideias) como aquela garotinha que perde o namorado, que se apaixona, que anda feliz pela vida sem muitas preocupações a não ser ficar e viver bem com as amigas e com o coração.
São esses os temas do disco, expressados em inglês. “Forever” é direta: “eu te amo, mas não vai ser para sempre”, um desabafo típico de amor adolescente. Ao fundo, é melhor não se confundir: as guitarras barulhentas estão lá por preferência, porque Katty, a garota, gosta assim, porque tornam seu vocal suave e adolescente mais dramático.
Ouça “Forever”:
Tanto que mais a frente, em “We’re Falling In Love Again”, num arroubo sessentista, backing vocals masculinos fazem um pontual e estranho barulho grave por trás do refrão simples (ecoando o “falling in love”). É pensado, proposital. Uma ingenuidade bem medida.
Os vocais em perspectiva, lá no fundo, dão um toque característico das gravações lo-fi. Também é proposital. Nem em “Johnny”, quando a voz de Katty é mais interpretativa e está em primeiro plano, exaltando o tal rapaz, ela se se sobressai. É o rife circular que dramatiza tudo.
Ou o baixo de “My Lilttle Girl In The Sun” (lembra um bocado de coisas esse baixo, até mesmo Nirvana), que logo é corrompido pela massa beastcoastiana pra falar de uma amiga. Até que as distorções mais sérias introduzirem “Your Girl”, a mais pesada das músicas (talvez porque tenha sido feita pra uma banda embrionária desses amigos todos, a Slowdrop), e um tanto deslocada e ponto de desequilíbrio do EP.
Mas, em tudo, emana o frescor da ingenuidade adolescente, que pode ser resumida na frase da própria Katty sobre a escolha do título do disco: “Molly Gun era o nome da minha cadelinha… Aí, achei esse nome tão legal e pensei: vou homenagear a Molly!”.
Tem como não se apaixonar por ela?
NOTA: 8,5
Lançamento: 21 de maio de 2012
Duração: 15 minutos e 32 segundos
Selo: Popfuzz Records
Produção: Márcio Junior
Download gratuito: clique aqui
”(talvez porque tenha sido feita pra uma banda embrionária desses amigos todos, a Slowdrop)” Amigos todos? Vc quis dizer apenas de Winne e Márcio, né? haha
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