A quantidade de vezes que ouvimos que o rock está morto é assombrosa. Talvez certo tipo de rock, felizmente, realmente esteja morto.
Este lançamento da Lingering Last Drops com Slumbering traz à tona guitarras extremamente cruas que afogam o doce e agonizante vocal em uma densa parede de distorção. E enquanto muitos declaram o gênero morto, a investigação que é feita com a guitarra aqui remete a todos os trabalhos bons no noise rock e também seus chiados carrega uma influência de “no wave”, em processos dinâmicos e assimétricos de construção e desintegração. Ouvindo “Bresson Bergman” (e eu realmente gostaria de saber qual a ligação com o cinema dos dois diretores) é como ouvir formas incessantes e surpreendentes que, em sua maioria (o contrabaixo tem também um papel importante) nascem do mesmo instrumento.
Isso dito, a voz em “Bresson Bergman” surge como espectro de memórias diluídas e afetivamente difusas na densa caverna sonora que a guitarra cria. Não há propriamente uma divisão estabelecida nem ideias sistemáticas de “ritmo” e é justamente essa crueza que podemos explorar o EP com uma audição extremamente única. Ela ofende e ela ataca nossos ouvidos e recebê-la só é parte desse processo deturpado. Colocar parâmetros que não passassem de meras impressões e achismos seria muito injusto. É uma frequência de ruídos (só o contrabaixo parece seguir alguma linha mais rígida) que logo depois de suas esticadas surgem barulhos mais quietos e calmos, ameaçando sumir. Esses atos efetivamente travam rompimentos e reencontros, desde os momentos mais ruidosos até a calmaria.
Apesar de ser um EP (com duas músicas de mais de treze minutos cada), todo “Bresson Bergman” tem uma construção grandiosa e que se apropria de diversas ideias pra se desenvolver e estabelecer uma espécie de “tensão esquisita” que vai evoluindo e que se aproveita tanto dos elementos mais roqueiros como as passagens “ambient” pra sua sonoridade se impor e causar no ouvinte uma impressão forte e perturbadora desde o início. Apesar de todo clima desolador, fica evidente que não tem nada morto aqui. Muito pelo contrário.
1. Forest Fire
2. A Swell Of Silence
NOTA: 7,0
Lançamento: 20 de janeiro de 2016
Duração: 28 minutos e 29 segundos
Selo: Independente
Produção: Lingering Last Drops
Belíssima resenha.