RESENHA: MACACO BONG – MACACO BONG

Estar em consonância com seu tempo é uma preocupação que eu acho sinceramente esquisita em muitas bandas que se vê por aí. É muito óbvio que o que é intuído é que tem que se desdobrar musicalmente – intuição como composição, também. “Macaco Bong” (leia aqui uma outra análise), o quarto trabalho de estúdio da banda de mesmo nome vinda de Cuiabá, vem como um gesto de retorno; um movimento contínuo que em sua própria destreza instrumental (não poderia ser de outra maneira) data um momento muito específico vivido pela banda.

Mais do que se preocupar com “qual norma” deve ser quebrada, este disco surge como uma manifestação, que em cada acorde parece descobrir algo velado. Não é como se houvesse qualquer caminho do álbum; cada faixa é ela mesma o movimento necessário de uma curta mensagem. Mais do que se preocupar com uma suposta reinvenção ou “quebrar modelos vigentes”, tem-se uma banda que executa suas progressões sonoras com calma, por isto é um movimento intuído. Não é como se a banda “medisse” escrúpulos, é que eles simplesmente transitam com a sensação de ter muito pouco a provar.

Com a supersaturação contemporânea no que se tange a consumo musical – em que cada banda tem que ser o “próximo qualquer coisa” (e geralmente comparam com um artista gringo)- a sinceridade do Macaco Bong é uma sinalização de que há ainda caminhos menos drásticos. A técnica impressionante dos outros discos ainda é executada, mas parece que o ponto principal é o que pode brotar da interação entre os músicos. A ênfase interativa se sobrepõe a qualquer outro elemento e por isso é um disco que tão rapidamente se torna familiar.

É um testemunho perspicaz do que relações musicais podem gerar. Versos de guitarra deslizados, andamento incomum da bateria – “Macaco Bong” é este terreno que abriga flertes com uma vasta gama de influências mas de nenhuma maneira deixa isso apagar a interatividade sonoramente exibida. Não há grandes oscilações emocionais e o álbum relativamente não ancora num terreno instável; as músicas sempre avançam e se dilatam e terminam deixando espaço pra próxima proposta.

Mas eu não quero dizer que há um “absoluto” invocado pelo álbum. Se os sentimentos não são contrastantes, é porque nunca houve esta intenção. Eu falho em achar uma origem ou achar uma intenção e vejo que os questionamentos de “Macaco Bong” nem são verdadeiros questionamentos. São pequenas afirmações de quem tem nada a provar.

Quando uma banda não emula nada, sobra sua criação nua pra nosso atravessamento. Não engendrar é um ato honesto e requer certa coragem, sem dúvidas. Quando o estímulo é exibir o seu talento e apenas sua forma de ver as coisas, elas geralmente dão certo.

NOTA: 7,0
Lançamento: 3 de novembro de 2016
Duração: 41 minutos e 07 segundos
Selo: Sinewave
Produção: Bruno Kayapy

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