O barulho constante faz parte da vida. Não há silêncio absoluto (“o silêncio também é barulhento”). Mas Marcelo França o demonstra com leveza. Seu harsh noise pode ser enquadrado em alguma outra categoria não lapidada, porque não há eficiência na atual descrição de “ruído” musical. Ruído, por conveniência de compreensão, é aquilo que não se encaixa no padrão codificado de estrutura musical. Só que há “ruídos” e “ruídos”.
A estrutura apresentada por França não busca o incômodo, mas uma compreensão. Não há mudanças abruptas, nem largas escalas alternadas. Há apenas o ruídos constantes ambientes. Os longos temas não partem pro confronto porque eles tentam se incorporar ao cotidiano, ao que já conhecemos como ruído diário – esse sim incômodo mas assimilado. Então, França despeja sua massa sonora como se fosse algo natural, impossível de ser combatido. Não há porquê brigar com o inevitável.
Por outro lado, o que ele chama de “triunfo” pode ser compreendido como uma vitória por assimilação. Não é um “junte-se a ele”, mas é um contorno do problema. Como se tentássemos aturar ou esquecer ou deixar de lado, pois é um problema indissolúvel. Ou, numa outra vertente de compreensão, o “triunfo” do ruído é o triunfo do que enxergamos como caos sobre uma normalidade fabricada e o argumento aqui é que seria justamente o contrário – o ruído é a normalidade e a tentativa de “normalidade” é um efeito colateral direto do nosso fracasso como sociedade, o caos pretensamente controlado do ser humano, que definha a cada tentativa de controle de entropia.
Lá pelas tantas, o efeito sobre o ouvinte é de pura indiferença. Ruído de fundo, como o que se ouve diariamente. Entretanto, e essa é uma das belezas do disco, basta um segundo de atenção, pra que o ouvinte se volte novamente aos questionamentos dos motivos que levam um artista a empreender uma obra como essa – não são poucas obras nessa seara, tampouco originais, já que o estilo já é estabelecido nos subterrâneos. Quaisquer que sejam as conclusões que o ouvinte venha a se deparar, provavelmente não será definitiva.
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1. Concrete Fusion
2. Noise Triumphs
3. Scrapped Metal Noise
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NOTA: 7,5
Lançamento: 21 de setembro de 2018
Duração: 51 minutos e 10 segundos
Selo: Célula Tóxica
Produção: Marcelo França