RESENHA: METÁ METÁ – METÁ METÁ EP

Depois do último álbum do Metá Metá, “MetaL MetaL” (2012), muita coisa mudou. Ano passado, Juçara Marçal (vocais) realizou um dos trabalhos mais impressionantes do ano, o que foi uma expressão evidente de que a música brasileira tem trabalhado a toda força. A impressão ao ouvir qualquer trabalho do Metá Metá é de uma inquietação onde todo instante é forte, cada momento impulsiona uma expressão urgente. Isso porque a música do conjunto é de combate; a sonoridade desse EP é punk e um soco na cara, suas variações com os instrumentos de sopro não “acalmam” nada. A banda tem nesse fluxo constante de sons a exibição do seu desconforto com qualquer coisa que se assemelhe a “zona de conforto”.

Talvez toda a variação instrumental devesse ser contemplada em uma resenha, mas me parece que realmente perderíamos o foco dessa inquietação latente que cada música do Metá Metá abriga. Mas o ponto é que o conjunto se foca nas feridas ganhas e o que pode florescer a partir desse estágio; nada é inocente na construção das músicas, por isso o desejo crônico de evasão pra lados que, se pensados anteriormente, seriam vistos como intangíveis.

Então a questão “cura” pro conjunto é tratada sob uma nova abordagem; curar, pro Metá Metá, é um processo de criação a partir da ferida. Essa que já não pode ser revogada, então resta expressá-la em sonoridades. A partir da “desorganização”, o grupo opera em instrumentalizar (em camadas opostas e sobrepostas) todo o “desmantelamento” que nos cerca. Como se o “caos” fosse mesmo um terreno que a banda não se cansa de rolar e aproveitar toda sua área; a cura é então desbravar os acontecimentos, encontrar possibilidades nessas desventuras.

O terreno do Metá Metá é expansivo e ofensivo por natureza, é como se toda a agressividade (as duas primeiras músicas do EP são como um legítimo soco na cara) e abusam das (des)conexões entre guitarra e sopro, sob as evocações de Juçara, rumo a um legítimo desencontro em que o “resultado” é sempre indefinido. A escolha de uma música das Mercenárias, “Me Perco Nesse Tempo” (do “Cadê As Armas?”, de 1987), reflete essa postura mais incisiva do conjunto.

Claro que todos aqueles elementos “não tão pesados” ainda envolvem o campo criativo do Metá Metá. Mas tive a impressão, durante cada audição do EP, de que toda a ruminação eclodiria em algo. Se a primeira faixa, “Atotô” (originalmente pro “Padê”, de 2008), anuncia isso de maneira mais tranquila, é na segunda, a das Mercenárias, que reside a “catarse” e talvez a sensação de urgência que mais representa o lançamento (o EP tem dez minutos e apenas três músicas).

Toda essa impressão de urgência existiria, é verdade, somente pela duração do EP. Mas é na pressa que esse lançamento representa que podemos ouvir todos os elementos que nos fascinavam no Metá Metá ganharem vida pra ratificar a força que é a música brasileira contemporânea.

NOTA: 7,5
Lançamento: 19 de maio de 2015
Duração: 10 minutos e 47 segundos
Selo: Independente
Produção: Metá Metá e Fernando Sanchez

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