UMA BOA INTENÇÃO
Versa o ditado popularíssimo: “de boas intenções o inferno está cheio”. Não sei se existe tal sabedoria circulando pelas ruas dos Esteites, especialmente de Denton, Texas, mas se o agora sexteto Midlake tivesse conhecimento, poderia ter recalculado seus passos após “The Courage Of Others”, de 2010, e principalmente após a saída do vocalista Tim Smith, ao final de 2012.
Mas, veja, é compreensível. O “dono” da banda, por assim dizer, é o baterista McKenzie Smith. Foi ele quem levou Eric Pulido ao lugar do guitarrista Jason Upshaw, logo após o lançamento do primeiro EP (pouco inspirado) “Milkmaid Grand Army”, de 2001. Por isso, quando Tim Smith quis tirar o time de campo – dizem que num arroubo meio Jânio Quadros, achando que iriam implorar pra que ele voltasse e com mais poderes – McKenzie e Pulido concordaram que o melhor a fazer era que o guitarrista assumisse de vez os vocais (que ele já disputava no disco anterior).
Quem conhece o Midlake desde o bom “Bamnan And Slivercork”, de 2004, um Grandaddy mais pálido; e principalmente pelo exuberante e insuperável “The Trials Of Van Occupanther”, de 2006, talvez o melhor disco do Fleetwood Mac não pensado pelo Fleetwood Mac; entende a importância da voz frágil de Smith e como o vozeirão forçado de Pulido tirou o equilíbrio das composições.
Ok, a comparação mais próxima da igualdade de condições está entre esse “Antiphon” e o precedente direto, “The Courage Of Others”, a primeira tentativa do Midlake de fazer música, me perdoe pelo termo, “adulta”
Ambos são bem próximos, afastando-se dos dois anteriores (justamente os que fizeram a cama e a fama do Midlake). Se “The Courage Of Others” pode ser encarado como uma ousadia saudável de demonstrar amadurecimento, mesmo que com resultado falho na sua maioria, “Antiphon”, como reafirmação de identidade da banda, soa mais falso e forçado ainda, mesmo que não seja exatamente, a despeito de todo esse cenário, um disco ruim.
Senão, vejamos: “Antiphon” tem uma trinca inicial muito boa, com a faixa-título, “Provider” e a ótima (a melhor do disco, uma das grandes do ano) “The Old And The Young”. As três já valeriam a compra da obra, mesmo que o ouvinte se incomode com o vocal grave, invasivo e destoante (do todo) de Pulido, bem notada na segunda canção e na quarta, “It’s Going Down”. Um bom exemplo dessa teoria está a na linda instrumental “Vale”: não há vocal pra tirar o foco.
Ouça “The Old And The Young”:
Ouça “vale”:
A banda continua afiada. Quem gostou de (ou da ideia de) “The Courage Of Others”, vai se esbaldar, especialmente com a cozinha. Baixo e bateria são os protagonistas. Basta ouvir a introdução de “The Old And The Young”. Mas não só. As guitarras e as linhas de teclas, envolventes, até conseguem por alguns momentos forçar a voz de Pulido a um desejável segundo plano (“Antiphon” e “Aurora Gone”, viajante).
Aliás, “Antiphon”, nesse sentido, é um título simbólico pra nova banda que o Midlake deseja ser. Depois de dois anos de trabalho pensando nos vocais de Smith, o sexteto rasgou tudo e começou do zero, desejando criar tudo como banda. Eis, pois, o simbolismo: antífona é uma peça musical religiosa, entoada em canto gregoriano por dois coros. É quando a ideia de banda, de conjunto, de união, de ajuda artística mútua se expressa com força.
Nada de robozinhos, balões, seres extraordinários, o Midlake quer ser uma banda “séria” e “adulta”. Por certo, “Antiphon” contribui pra essa percepção, mas sem o vocal Tim Smith parece outra banda. Aquele Midlake de “…Van Occupanther” não existe mais.
Não dá pra viver de passado e se agarrar aos próprios feitos gloriosos, mas o fã de longa data diria que é uma pena – o que não quer dizer que novos fãs não venham por aí. “Antiphon” pode ser o começo de uma boa nova jornada, basta Pulido se conter e algum produtor mostrar isso à banda. Por enquanto, “Antiphon” é só uma boa intenção.
Veja o vídeo oficial de “Antiphon”:
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NOTA: 6,0
Lançamento: 4 de novembro de 2013
Duração: 41 minutos e 36 segundos
Selo: Bella Union e ATO records
Produção: Paul Alexander e Midlake
Não posso concordar com sua resenha, uma vez que tenho para mim que os últimos dois álbuns do Midlake são muito superiores a toda discografia prévia deles que é, na minha opinião, irregular. Achei que este Antiphon trouxe maior flexibilidade à música do grupo, especialmente considerando que o vocal do Tim Martin soava um tanto quanto monótono em sua tentativa de emular algumas modulações vocais do Thom Yorke, vocalista do Radiohead. Gosto especialmente dos arranjos do guitarrista e acho que sua voz soou bastante bem no decorrer do álbum. Há muito variabilidade neste disco e este é um ponto falho no genial The Courage of the Others.
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Mas estou de acordo contigo quando diz que a banda está apostando em trabalhar num formato mais adulto em termos de composição e arranjo. Porém, diferentemente de vc, acredito que alcançaram com êxito tal objetivo. Eu não tenho muitas críticas ao disco, tlz tenha sobre alguns detalhes da produção e timbres, como a altura do baixo e o timbre abafado da bateria. Mas não consideraria tais pontos falhos, mas apenas diferença de perspectiva sobre como o álbum deveria soar. .
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Enfim, nossas opiniões parecem estar sob controle de diferentes atributos. Talvez nossa concepção do que seja boa música passe por crivos díspares. Tanto é assim que a festejada “The Old And The Young” é a música do álbum que menos me chamou a atenção.
De qualquer forma, valeu pela visita, pela leitura e pelo comentário, meu caro! Abraço!