Talvez ouvir Natural Nihilismo seja um exercício do quanto da tua própria degradação você consegue tolerar. Mas prefiro pensar que é mais do que isso. A utilização radical de ruídos intermitentes ativa o ouvinte, o leva pra qualquer identificação que ultrapassa meras formalidades estéticas. Com uma temática aparente tão forte como essa, não poderia ser de outra maneira. Muito mais do que pedir a empatia do ouvinte com amuletos fáceis, a infusão imputada pelo Natural Nihilismo é de uma agressividade áspera e brutal.
Coadunam-se questões que abalam estruturas que concebemos. E só abalam não apenas por uma suposta fragilidade destas, mas sim porque elas não existem. Existe a realidade “nua e crua”. “OPRÓBRIO” é uma investigação da falta de um “ser”, este que é a relação entre nós e a miséria propriamente dita. Uma relação inexistente ou dissimulada em politicagens panfletárias. Nossa perturbação ao ouvir o disco denuncia um mal que fingimos não existir.
Somos lançados nesta visitação constante do mal. Uma unidade abandonada cuja aura é um depósito humano de emulações. Passamos e não damos dinheiros. Fingimos olhar pro outro lado quando o sem-teto estende a mão (aliás só o fato de eu aplicar termos como “nós” já configura um afastamento brutal. Os memorandos constantes de que o capitalismo não sucedeu parece não ser suficiente pra linguagem não atingir absolutamente nada de relevante). Por estes insucessos que o Natural Nihilismo tem que ser extremo. Uma teia de epifanias próprias do abandono. Da corrupção dos lapsos de humanidade.
Compressos entre extremos nós vivemos numa mediocridade sinalizando com sorrisos frustrados um pretenso bem-estar. Talvez tenhamos que atingir um ponto de não-reconhecimento. Temos que escutar “OPRÓBRIO” como um idioma esquecido há muito tempo.
Arder no terreno da mediocridade parece uma sina (e quanto fico nestes devaneios eu não estou fazendo absolutamente nada mais que as pautas das quais eu tanto ironizo).
É uma pena que só há um lapso destas questões ao nos depararmos com algo tão radical. E por isso a existência do Natural Nihilismo se faz necessária: pra lembrar todos os esquecidos de que há uma não-existência rebaixada em elementos degradados e concretos e que tratamos de esconder em existências dissimuladas.
Não se trata de correr atrás do elemento corrompido e anarquizado; mas se há, ainda, alguma forma de se chegar a ele.
—
1. Cama De Papelão
2. Degradação
3. Recaída
4. Impurezas
5. Esmola
6. Nas Ruas…
—
NOTA: 8,0
Lançamento: 8 de janeiro de 2016
Duração: 98 minutos e 52 segundos
Selo: Independente
Produção: Natural Nihilismo