RESENHA: NEIL YOUNG & CRAZY HORSE – PSYCHEDELIC PILL

O PASSADO E O PRESENTE

Depois do estupendo “Le Noise”, um dos melhores e mais ousados discos da sua carreira, Neil Young voltou-se pro passado e juntou de novo o Crazy Horse pra fazer não só um disco, mas dois.

Desde “Greendale”, de 2004, não havia um disco com a assinatura Neil Young & Crazy Horse. Em 2012, os fãs viram dois – e ambos olham pro passado. “Americana”, lançado no meio do ano, celebrava canções do ideário popular estadunidense, recriando com guitarras músicas que já caíram em domínio público e, segundo o próprio Young, “toda criança sabe de cor”.

Daí veio esse “Psychedelic Pill”. Se em “Americana” crianças podem ver o que aconteceu com as “canções que elas sabem de cor”, em “Psychedelic Pill” é melhor nem tentarem. Não é um disco infantil, nem mesmo adolescente, embora existam alguns puxões de orelha aos jovens e uma boa dose de “olhar ao passado”, pra história estadunidense, que serve como tema de estudo. Mas é um lamento e jovens costumam olhar os mais velhos que lamentam com certo desdém.

É possível que Neil Young, hoje com 67 anos, tenha percebido (e visto) tanto quanto um Bob Dylan a envergadura dessa “América” torta e distorcida por valores pouco edificantes, que ao mesmo tempo prega oportunidades pra todos – com a vantagem de que a falha do país é ainda uma virtude: não entrega oportunidades pra todos, mas pelo menos o faz pra muitos.

Logo em “Driftin’ Back”, épico (não há outra palavra) de vinte e sete minutos e meio, falando de Jesus a MP3 e cortes de cabelo atuais, a banda se arrasta dizendo que está à deriva, sem saber muito em que terreno está pisando, ou onde se encaixa. Em termos sociais, não é um privilégio de decadência apenas estadunidense. Em qualquer lugar do mundo, gritos de descontentes podem ser ouvidos. Mas poucos com guitarras tão apaixonantes.

Ouça “Driftin’ Back”:

Billy Talbot, no baixo, Ralph Molina, na bateria, e Frank Sampedro, sustentando os contornos rítmicos de Young, se dão melhor nas faixas longas. O gingado que Neil Young diz ter roubado de Hawk Williams, distorcido e chamado de seu, é apresentado com todo tesão nessas longas incursões.

Em “Psychedelic Pill” são quatro delas. Das curtas, a faixa-título apresenta uma letra interessante, mesmo parecendo boba, sobre uma moça que dança sem parar, sob efeito de sintéticos popularizados à época. Só que são nos lamentos longos que a banda dá uma geral na tal decadência social da abertura. “Ramada Inn” é uma história de amor destruída com o passar do tempo. Em “Walk Like A Giant”, ele mostra o furor jovem de querer “mudar o mundo”.

“Ramada Inn”:

Embora o discurso pareça sempre do “no meu tempo era melhor”, e Neil Young realmente indique uma saudade latente dos anos 1960, isso é uma visão fácil do todo: Young se incomoda bastante com o agora, só que menos por saudades de um tempo que não volta mais do que por frustração em ver que todo o esforço ideológico de sua geração não deu em muita coisa. Dali, sobrou só o romantismo, e hoje o mundo torce o nariz pra aquelas utopias de mundo livre, paz, igualdade, segurança e justiça pra todos.

Se a banda tivesse conseguido passar esse sentimento a todas as faixas, teríamos um disco ainda mais longo – e delicioso. “Psychedelic Pill” é o primeiro duplo de Neil Young com a Crazy Horse e, com oitenta e oito minutos, o mais longo da carreira. Mesmo assim foi pouco o espaço.

Mesmo que o grupo continuasse e fizesse ainda mais, fica a certeza de que não dá pra voltar ao passado. Mas dá pra refletir e aprender com ele, sem culpas, sem romantismo. E, melhor, dá pra aproveitar o Neil Young do presente, o que ainda é um baita negócio.

NOTA: 8,0
Lançamento: 30 de outubro de 2012
Duração: 87 minutos e 51 segundos
Selo: Reprise
Produção: Neil Young

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