Esse álbum foi inspirado no famoso jogo de tabuleiro japonês chamado GO. Mais precisamente trata do famoso duelo entre Go Seigen (o chinês Wu Qingyuan, considerado o melhor jogador de todos os tempos) e os japonês Fujisawa Kuranosuke (depois, Fujisawa Hosai) em 1953.
Lógico, não pretendo que alguém sequer saiba esperar o que ouvir quando falo dessa relação. A dinâmica rítmica do Nonsemble se baseia em movimentos de avanços e recuos e muitas repetições. Essas repetições podem ser encaradas como a meditação pro próximo movimento (uma correlação entre o instante que se “pensa” e o momento que uma “jogada” é de fato realizada). Chris Perren compôs essa peça mirando mais na concepção de um jogador do que no jogo em si. Essa criação de trinta minutos une um post-rock contemplativo e música minimalista clássica pra exteriorizar “estados internos”.
Os movimentos são descritos minuciosamente em tempos cronometrados, em que os instrumentos trabalham juntos na construção de um clima “sério”, entre sons de corda com estruturas bem rígidas e um piano mais receptivo como contraponto. O piano é o “cérebro” do conjunto e faz a ponte entre cordas e percussão. A recorrência das mesmas temáticas é sempre reintroduzida pela bateria, com uma influência clara de bandas como o GY!BE.
Embora o disco se baseie em um jogo japonês, não espere uma música influenciada pelo oriente. Até onde eu sei, todas as noções de composição utilizadas por Chris dialogam claramente com o ocidente. Parece que cada ideia nesse álbum nasceu pequena e foi trabalhada exaustivamente até poder ser apresentada de fato como estética, em que todo o clímax pode ser experimentado como consequência natural.
Ouça na íntegra:
O som das cordas viciam os ouvidos e Chris estabeleceu o envolvimento destas com a guitarra de maneira extremamente cerebral. Pois tudo se encaixaria se tivéssemos uma longa faixa de trinta minutos. Mesmo que não leve muito tempo, a sensação após o término do disco é de esgotamento; porque ouvi-lo de uma vez com toda a atenção requer energia, não é “fácil”. As mudanças de ritmo operam com tanto cuidado e sutileza que muitas vezes podem passar despercebidas. O minimalismo da obra contempla explosões que só se justificam nesse pano de fundo mais elaborado.
Chris também evidencia seu lado mais “manipulador” (uma característica pra bons jogadores de tabuleiro) quando ressurge com melodias já em outros momentos nas músicas. Quando a repetição é realizada com exaustão e nos localizamos no centro de um labirinto em que parece não existir saídas possíveis, somos brindados com uma explosão gigante de cordas. Essa explosão é tão delirante que podíamos questionar “por que eles não a usaram durante todo o disco?”. Mas se isso seria muito eloquente ou tão exaustivo quanto às intrincadas repetições no meio do álbum não tem como saber.
Conclusão; eu não entendi nada sobre o GO no final do disco e me pareceu uma luta grande entre ápices que são muito bem desenvolvidos e um tédio que lembra algumas missas católicas. A eloquência, ainda bem, venceu.
NOTA: 5,0
Lançamento: 27 de abril de 2015
Duração: 31 minutos e 50 segundos
Selo: bigo & twigetti
Produção: Thomas Green e Nonsemble