Às vezes, eu gosto de deixar o som rolando no notebook enquanto vejo o (pouco) movimento da pequena cidade do interior de Minas Gerais onde moro.
Essa pré-nota não evidencia especificamente nada ou não diz muito sobre a (alta) qualidade do disco, mas eu já adianto que são pouquíssimos álbuns que sintonizam com o clima ensolarado desta cidade. Pra todos os fins, o que os mineiros do Ralley fazem é trazer imediatamente as melhores lembranças que eu consigo associar ao ato de descobrir música “alternativa” – horas e horas em madrugadas com conexão discada procurando pela imensa e abrangente tag do “hardcore”.
Rallye me lembra também o tipo de hardcore melódico na virada dos anos 2000 que estourou no ABC paulista (onde eu morava na época) e que me trouxe tardes menos solitárias. Há uma razão que supera essa nostalgia, porém: os sing alongs contagiantes são capazes embalar qualquer dia não muito bom.
Entre essas reações paradoxais (nostalgia versus empolgação iminente) as guitarras do Rallye embalam lembranças a ponto de eu confundir a origem delas.
Também empresta a significações passadas uma roupagem nova, decididamente mais animada. Eu quero dizer: não lembro se aqueles momentos foram exatamente bons, mas ao ouvir “Out And About” tenho a impressão de que sim. De modo que reside em quem ouve uma aceitação mais afirmativa das coisas que acontecem. Como se a música do dia-a-dia fosse repetidamente tocada nos lembrando que o próprio dia-a-dia (e seus subsequentes sons) é motivo suficiente pra continuar nessa jornada doida e atrapalhada. As canções são, sobretudo, nascidas de desejos que ainda existem – apesar da vida adulta, apesar das contas que eram pra ter sido pagas ontem.
Eu não creio que isso vai tocar você da maneira que me tocou, mas eu espero que te empreste alguma empolgação semelhante pra lembrar as coisas boas.
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1. Misery
2. Don’t Take It Back
3. Own My Way
4. Again
5. Stop Waiting
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NOTA: 6,5
Lançamento: 27 de abril de 2017
Duração: 18 minutos e 10 segundos
Selo: Burning London Records
Produção: Tiago Castro