RESENHA: RINGO DEATHSTARR – MAUVE

UMA COR, UMA FORMA, UM ESTILO

Nenhum clichê é clichê à toa. Dizem tanto que “o segundo disco é difícil” é porque deve ser mesmo. Principalmente pras bandas do novo milênio, época em que tudo acontece tão rápido que há quem tenha se esquecido do primeiro disco semanas depois do seu lançamento – a não ser que tenha feito um tremendo sucesso e o trabalho de estreia perdure, algo raro.

Se tudo é tão fugaz dessa maneira, por que, então, se preocupar?

Ninguém sabe dar uma resposta a essa pergunta que não seja falando de “expectativa de manter o padrão”. Fãs, gravadoras e crítica parecem adicionar toneladas de pressão ao processo. Exigem ou uma mudança radical (o que não deixa de ser contraditório) ou uma obra no mesmo nível da anterior. Certamente, por conta da quase impossibilidade de se manter tal padrão, críticas aparecerão, o artista sabe disso.

Há quem sucumba, há quem faça melhor, não há uma regra. E não há justamente porque apesar do talento ser percebido de cara, ele deve ser lapidado aos poucos, ao longo de uma perseverante carreira, e com as ferramentas da experiência de vida e do aprendizado. Pouca gente consegue isso em duas tacadas certeiras e geniais.

Daí que é prudente bandas como Ringo Deathstarr dar de ombros e esquecer essa balela toda. “Colour Trip” foi um discaço de estreia, um dos melhores de 2011. Entrou pra aquele time de bandas que também fizeram discaços de estreia e foram cobradas por um disco tão bom quanto.

Mas os texanos olharam pras suas limitações criativas e resolveram manter o padrão de “Colour Trip”: guitarras distorcidas, pedais, vocal por trás da muralha de som. Pra quê queimar a mufa e se preocupar em fazer diferente? Então, o segundo disco, “Mauve”, acabou sendo quase tão bom como o anterior, porque bebeu nas mesmas fontes.

“Quase tão bom” porque a salada ficou mais sortida. Enquanto “Colour Trip” se acomodava tranquilamente no manto do My Bloody Valentine, “Mauve” tem outras referências óbvias, embora todas circulem pela mesma órbita.

Começa com “Rip” lembrando o melhor do Raveonettes (também com “Drag”); passa novamente por MBV-“Isn’t Anything”, com “Burn”, “Drain” e “Fifteen”; tem Jesus & Mary Chain com “Girls We Know” e “Do You Wanna”; e assim segue. O grande destaque é “Slack”, uma das grandes músicas do ano.

Veja o vídeo oficial de “Rip”:

Se foi proposital e a banda realmente pensou nisso, “Mauve” referindo-se à cor ou à planta é um conceito que define bem o Ringo Deathstarr: a planta é cultivada na Ásia com propriedades medicinais e tem flores de coloração rósea com raios vermelhos, que quando secas assumem tons azulados, violetas. Ou seja, é uniforme.

“Mauve” quer solidificar o Ringo Deathstarr, que uniformizar seu estilo. O segundo disco reforça o primeiro e não há invenções. A banda contornou o clichê da dificuldade do segundo disco simplesmente utilizando a mesma psicodelia shoegaze do primeiro. Simplificou fazendo o que sabe fazer.

Deu certo: com uma só cor, uma só forma, a banda vai construindo sua identidade.

NOTA: 8,0
Lançamento: 24 de setembro de 2012
Duração: 39 minutos e 52 segundos
Selo: Club AC30
Produção: Richard Gottehrer

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