Não é segredo meu apreço pelos trabalhos de Thiago Miazzo (fiz duas resenhas recentes de projetos seus: Pallidum e CV). Seu mundo sônico tem se caracterizado por múltiplas abordagens que investigam o espaço e o tempo como fragmentos constantes. Cada lançamento, ainda que guarde similaridades com outros, especifica um humor e arrasta o ouvinte em sua própria subjetividade.
Mais do que somente imposições formais, “atsm” é uma espécie de drone folk que coexiste com o ambiente conturbado de outras obras de Miazzo. São acordes intermediários entre ambiência um tanto quanto onírica e recortes sonoros que diferenciam “atsm” de seus outros trabalhos. Sons parecidos com outros lançamentos também são sentidos, só que aqui eles fazem plano de fundo para as canções de “rock” que figuram em primeiro plano.
A quietude do disco é diferente dos outros “silêncios” na obra de Miazzo. Em “astm”, o silêncio é realmente pacífico e conta com a produção intencionalmente lo-fi pra aclimar o ouvinte. As energias se condicionam pra uma passagem de tempo lenta e arrastada em que as concepções do músico são deslocadas suavemente (e interrompidas bruscamente) enquanto somos diluídos pelo ambiente de Miazzo (da até pra falar que é um “dream pop” à sua maneira).
O resultado aparece como um esforço de quem estabeleceu uma produção vasta e desconfortável, ainda assim expandindo mais os gêneros um tanto quanto vagos que sempre foram atribuídos aos seus discos.
A própria gravação do disco ambienta o ouvinte num terreno de “baixa produção” que puxa trechos de música como a memória e ruídos quando as lembranças se comunicam com a reprodução de momentos. O espaço e os gestos tornam-se mais importantes (e impositivos) do que a mera estética formal de música. Constantemente, você pode encontrar uma música que te anime e te faça bem, mas dificilmente encontrará uma “sensação” imposta capaz de ressignificar, ainda que temporariamente num curto espaço de tempo, os signos como faz os trabalhos de Miazzo.
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NOTA: 8,0
Lançamento: 14 de maio de 2017
Duração: 20 minutos e 00 segundos
Selo: Independente
Produção: Thiago Miazzo