RESENHA: SIMPLE AFFECTIONS – SIMPLE AFFECTIONS

A música clássica não perde seu romantismo ancestral quando infectada por colagens transitórias de tempos nulos.

Considere que o Simple Affections ocupa um espaço de excesso e nulidade abundantes, em que o som aprazível da natureza convive com uma estranha ode sobrenatural e interferências eletrônicas, enquanto todos os mundos se entrecruzam.

Simples Affections poderia ser chamado de um coletivo de um mundo cuja desconformidade evoca rupturas poéticas de qualquer fórmula desgastada.

Então, talvez, eles percebam mesmo que a música é um desdobramento contínuo de possibilidades e devastação destas quando elas saturarem, iniciarem ou se mostrarem de outra forma, de outros sons, com outros gestos que não o da música já concebida.

Simple Affections é o som da dissolução, de um mundo que se transforma sempre em outra forma desconhecida, e por aí em diante. Se o Simple Affections tocasse em quase qualquer lugar do mundo, faria sentido ao mesmo tempo que o coletivo seria estranhado: que raios são esses sons familiares portando-se tão misteriosamente?

Mas talvez nós estejamos cansados de tudo e seja necessário uma postura demasiadamente mundana pra devolver a música como um enigma em contínua projeção.

Afinal, é parcialmente culpa de quem tem feito canções como escambo cultural que atos que prestigiam tanto uma profusão de sonoridades dissonantes e harmoniosas, como o Simple Affections, sejam descritos com qualquer hashtag sarcástica em alguma rede social. Nestas peças, o mundo se mostra como continua construção, enquanto há sempre uma perda e um acréscimo, sem dualidades anulatórias. Mas sempre uma reconciliação com o próprio ato de ouvir/criar música.

1. Motets
2. Alexander Scriabin
3. Camille Saint-Saëns

NOTA: 9,0
Lançamento: 21 de agosto de 2018 (versão física) e 28 de novembro de 2017 (versão digital)
Duração: 41 minutos e 44 segundos
Selo: Recital
Produção: Não creditado

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