Óbvio que ambos os nomes, do conjunto e do disco, atiçam uma curiosidade sobre o que está por vir e, qualquer que seja o palpite que possamos ter, não vamos nem chegar perto do registro sonoro que é este álbum.
Claro, isso não tem importância após a forma completamente autoral que a banda se apresenta logo nos primeiros instantes. Tentar catalogar toda a influência por trás do disco seria tolo, mas a primeira banda que veio à minha mente foi o Magma. As letra divertidas e caóticas encontram respaldo nos instrumentos tocados de maneira incomum e inusitadamente.
Os vocais das músicas surgem como transes que harmonizam nas estruturas “experimentais” das canções, não apenas deixando que a vastidão instrumental fique em primeiro plano – o estrondo de “Automemeteronimonomano” é múltiplo, não há um momento sem frenesi ou manifestações incomuns; samba, rock progressivo e qualquer outra coisa será bem-vinda desde que corrobore pra esse universo dinâmico da estrutura sonora do álbum.
Quando você começa a ouvir as músicas aparentemente “caducas”, qualquer receio é deixado de lado pra uma assimilação em que todos elementos são necessários pra uma reação digna da multiplicidade do disco. Por isso o “peso” do álbum não precisa ser imposto por instrumentos altos ou agressividade explícita, mas sim a partir da densidade provocada pelos aprofundamentos difusos que surgem a todo instante.
A construção do álbum pode parecer que é um daqueles discos “seletos”, “pra poucos”, mas eu não vejo como não se divertir sinceramente com todo o bom-humor do disco. Os polirritmos, as melodias divertidas e as letras que parecem um fluxo de consciência analítica do que se entende por real desenvolvem um campo em que qualquer instrumento não pareça “deixado de lado” e os músicos afirmam-se em qualquer recorte sonoro. Fica difícil assim, digitando, relacionar toda a circulação referencial e os lugares visitados pelas músicas – mas a cadência múltipla torna a visita ao disco como algo que agrega importância e diversão.
Por isso, pra mim, não importa tanto o viés que você utiliza pra ouvir algum disco (se você ouve lendo as letras, se você ouve enquanto lava a louça ou se você ouve isolado em um quarto escuro) porque fica difícil estabelecer uma perspectiva que “Automemeteronimonomano” deixa de cumprir o que propõe. A produção é dos próprios integrantes e com toda a postura autônoma fica evidenciado que o “faça você mesmo” pode atingir vários lugares e, às vezes, de uma só vez.
—
De acordo com a nota oficial, o Sistema | Outro é Marlos MarSal, aka Marlos Salustiano no vocal, letras, teclados, kazoo, programações de bateria e percussão, mixagem, design gráfico e autoria das composições; Julian Quilodran na flauta transversa, violão, charango, baixo elétrico, percussões adicionais, mixagem e masterização; e Gustavo Jobim nas teclas, letra de “O Magnífico Copo”, sound design, mixagem, nome do projeto.
—
01. Cios Tem O Fodão
02. GAGAdgets
03. Metamática
04. Proust-iTotem
05. Medos Tem O Fardão
06. GetsoMoney
07. PlutoHipnoTeoFaloEstenoTaquioCarnivoroCracia
08. Leviathan
09. Esquizos Sem Padrão
10. O Magnífico Copo
11. SAÍDA
—
NOTA: 8,0
Lançamento: 31 de julho de 2017
Duração: 26 minutos e 35 segundos
Selo: Independente
Produção: Sistema | Outro