RESENHA: SNEAKS – GYMNASTICS

Eva Moolchan é a pessoa por trás do SNEAKS. Uma moça de poucos anos, vinte e tantos se muito, fazendo música de velho – hoje, velhos de quarenta e muitos. E com uma impressionante urgência que pouco se encontrava nos anos oitenta.

Com um baixo e uma bateria eletrônica, ela lapidou um disco de treze minutos que assombram pela simplicidade e pela engenhosidade que servem como homenagem a uma época, tanto quanto como exercício de desejo de um passado não-vivido.

Moolchan é uma baixista de acordes deliciosamente envolventes, mas que não chegam a se desenvolver por completo. As músicas possuem no máximo dois minutos (a mais longa tem dois minutos e três segundos). Ela parece cantar slogans, termos quaisquer do seu dia-a-dia – e sua música é isso, um post-punk-slogan.

Ela não nega fazer parte desse tempo acelerado, fugaz, sem profundidade, época de Snapchat, mensagens que duram segundos, músicas que não estarão vivas amanhã, artistas dos quais ninguém se lembrará ao acordar, uma arte envolta em elogios líquidos, que derrete com o andar do fino ponteiro dos segundos.

Mesmo assim, não há como não balançar com seu baixo e sua bateria eletrônica simplória. Mais com o baixo, claro, que nos lembra daqueles infernos escuríssimos dos anos oitenta, o Espaço Retrô sempre à mente, tocando de X-Mal Deustchland, Pink Industry, Wolfgang Press, Dead Can Dance e afins, os ouvidos concentrados, olhos fechados reforçando a escuridão, algo de sofrível lembrança pra quem já tem coisas na vida mais urgentes a resolver. Ser “gótico”, o estereótipo, já não cabe mais.

Só que Moolchan não é “gótica”. Sua música é divertida. “Someone Like That”, a de dois minutos, tem uma cor 8bits e é o que de menos escuro se ouve na obra. A música, ao contrário, não é “divertida” por isso. “Gymnastics” é um assobio de piadas próprias, que pode ser que só a astista entenda: “eu estava brincando com a forma como usamos o idioma e torcemos as palavras em slogans banais, anúncios, e eu estava vendo símbolos repetitivos enquanto ia pra escola”, disse.

Uma percepção do seu mundo – do nosso mundo atual – que permite aos mais velhos rememorar um outro mundo, mas que tinha os mesmos problemas, exceto pela fragilidade de sustentação do tempo.

“Gymnastics” saiu originalmente em 2015, mas ganhou reedição em 9 de setembro de 2016, pela Merge que acabou de assinar com a moça. Não chegou a passar desapercebido no ano anterior, pelo contrário (a Clash Music já elencava a obra como um dos destaques do ano), mas agora deve ganhar o reconhecimento mais amplo que merece. É um disco altamente acessível, é pra tanto. Mesmo que amanhã ninguém se lembra mais – o que, no caso de Moolchan, tenho a impressão de que não será assim.

01. Tough Luck
02. X.T.Y.
03. New Taste
04. No Problem
05. Red
06. Down In The Woods
07. True Killer
08. This Is
09. Figure 8
10. Someone Like That

NOTA: 9,0
Lançamento: 9 de setembro de 2016 (relançamento – o original é de 2015)
Duração: 13 minutos e 05 segundos
Selo: Merge Records (relançamento – o original é via Danger)
Produção: Eva Moolchan

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