A MÚSICA É UM TROÇO MÁGICO
“I hate music, what is it worth? Can’t bring anyone back to this earth”. A frase está em “Me & You & Jackie Mittoo”, curiosamente uma homenagem ao tecladista fundador do The Skatalites.
Embora pareça, o novo disco do Superchunk, “I Hate Music”, não é um tratado de decepção com a profissão. Mas quase vinte e cinco anos de carreira depois (com um hiato de dez, entre 2001 e 2010, ano de lançamento do disco anterior, “Majesty Shredding”), é difícil não ter tropeçado em alguns problemas e frustrações.
A música tem, porém, suas mágicas. Desde a paixão-à-primeira-vista que foi o cover de “Train From Kansas City” (ah, as Shangri-Las!), e o single “Slack Motherfucker”, ambos de 1989, antecipando o rasgo de guitarras que foram os anos 1990, o Superchunk parece ter encontrado sua fórmula especial e nela se agarrado com bastante felicidade: o melhor disco do Superchunk é bastante parecido em qualidade ao pior disco do Superchunk, e vice-versa, de modo que é bem fácil gostar de todos deles se você gostar de um que seja.
O Superchunk, com o Pavement, o REM, o Dinosaur Jr e correlatos podem se gabar de ser sinônimo de “college radio”, quando elas faziam todo o sentido de desafiar o esquemão das grandes corporações e antenas.
Ouça “Me & You & Jackie Mitoo”:
“I Hate Music”, assim, não é muito diferente do seu predecessor, “Majesty Shredding”, embora as sutilezas caiam bem, vide o começo climático de “Overflows” e sua apresentação acústica; a pesada “Void”; e a porrada comendo solta na ligeira “Staying Home”. São novos ares e experiências pra uma banda que nunca foi de inventar moda.
O lance de Mac McCaughan e Laura Ballance é basicamente contar “um, dois, três, quatro” e apresentar músicas simples, daquelas que animam desde festas universitárias estadunidenses, tipo “Pork’s”, até o seu dia mais infeliz e chuvoso.
Há muito disso aqui em “I Hate Music”, especialmente nas faixas intermediárias “Low F”, “Trees In Barcelona”, “Breaking Down” (com um começo viciante), “Out Of The Sun” e “Your Theme”, todas perfeitamente encaixáveis em outros discos da banda e divertidíssimas, pois passageiras e inconsequentes.
Ninguém que faz música com esse desprendimento pode de fato odiar música. O Superchunk pode odiar o meio em que está, febril nas injustiças do mercado, mas não odeia a música em si.
E você, depois de chegar ao melhor de “I Hate Music”, que está no final, com grudenta “FOH” (feita pra ser o ponto alto em shows) e a melancólica “What Can We Do” (com um simplório e eficiente “I’ll say I love you, I won’t say goodbye”), reafirma aquela certeza: sim, a música é um troço mágico.
Ouça “FOH”:
NOTA: 7,0
Lançamento: 20 de agosto de 2013
Duração: 37 minutos e 33 segundos
Selo: Merge Records
Produção: Superchunk