RESENHA: THE BLACK ANGELS – INDIGO MEADOW

NOVAS INSPIRAÇÕES NO PASSADO

Você pode achar que já ouviu esse disco antes. É, o Black Angels mostrou toda sua verve psicodélica nos seus três primeiros discos e, como já indicava “Phosphene Dream”, o trabalho anterior, de 2010, o frescor saudosista dos anos 60 parecia menos refrescante.

Nesse meio tempo, a banda ajudou a criar o Austin Psych Fest, em 2008, (re)colocou o 13Th Floor Elevators na prateleiras de destaque da memória coletiva e até veio pro Brasil, em 2011, no segundo SWU.

“Indigo Meadow”, o quarto disco, porém, parece esbarrar no esgotamento da proposta revisionista do psicodelismo do final dos anos 60 e que deu frutos bons de “Passover”, a estreia de 2006, pra cá.

Dito dessa forma e colocando a agulha pra girar (ou os bits e bytes pra trabalharem) o ouvinte poderá achar que as coisas não se encaixam, já que a música de abertura, a faixa-título, poderia estar em qualquer um dos discos anteriores. A bateria primal e o vocal emoldurado por efeitos sob guitarras hipnóticas dão bem a característica da banda.

“Evil Things” começa com um baixo distorcido e de repente a gama toda invade as caixas. Alex Maas solta a voz arrastada, um quase não-cantar. É uma canção pesada, meio Black Sabbath e as coisas começam a direcionar pra um caminho antes só avistado, pra além do 13th Floor Elevators e do Velvet Undergound. Você pensa que já ouviu esse disco, mas não ouviu. É um Black Angels um tanto diferente. Ou o quanto consegue ser de diferente.

Ouça “Evil Things”:

O Black Angels de “Indigo Meadow” mostra outras raízes. Tem Yardbirds, em “The Day”; um estranhíssimo início pop-Charlatans-Oasis em “Holland” (achei que uma voz Gallagher poderia surgir a qualquer momento); e uma similaridade interessante, quase-homenagem a “Lucifer Sam”, do Pink Floyd, em “War On Holiday”.

Aliás, é na trilha do Pink Floyd sessentista, na sombra de Syd Barret, que “Indigo Meadow” segue. Mas há um tanto de preguiça nas composições: parece que o Black Angels não tentou arriscar muito (a estrutura de “Love Me Forever” é um bom exemplo, embora a música seja grudenta). Podiam ter tirado essa lição – o prazer de arriscar – do Pink Floyd.

O melhor trecho do disco está a seguir, com “Always Maybe”, lasciva, provocativa e melancólica; com “War On Holiday”, a citada alusão a “Lucifer Sam”; com “I Hear Colors (Chromaesthesia)”, dando o tom da psicodelia sinestésica; e com o balanço descompromissado de “You’re Mine”. O single “Don’t Play With Guns” é ótimo também, mas pra tocar numa festa, o mais alto possível, sem se preocupar com a letra estúpida (não preste muita atenção nas letras desse disco, pra evitar frustrações, mesmo que isso seja difícil de se pedir).

Ouça “Don’t Play With Guns”:

O (agora) quarteto faz algumas canções hipnóticas, circulares, como “Twisted Light”, mas no todo “Indigo Meadow” parece arrastado, preguiçoso e sem um alvo específico. A banda pode considerar esse trabalho uma passagem, um grito de liberdade das raízes pré-estabelecidas. Sendo isso, até que se saíram bem, não daria pra exigir muito.

Mas é algo que só vamos saber se deu certo lá no futuro. Enquanto isso, a banda vasculha num passado mais amplo a inspiração pra se estabelecer.

NOTA: 6,0
Lançamento: 2 de abril de 2013
Duração: 45 minutos e 49 segundos
Selo: Blue Horizon Ventures
Produção: John Congleton

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