FILME RUIM
Eu sempre vi comédias estadunidenses adolescentes, porque são o tipo de diversão passatempo que vale pra desanuviar a cabeça. O roteiro e os diálogos idiotas não me incomodam, porque a ideia é ser idiota mesmo: escatologia, machismo, bullying, toda essa sorte de estupidez – e tinha, claro, peitos e mais peitos, o que pra adolescente é uma estrela a mais.
Tirando isso, o que mais me irritava eram aquelas bandas que tocavam nas festas das universidades desses filmes. Sabe? Tinha guitarra, baixo, bateria, uma pose bacana, o som era “rock”, mas eram bandas de filme, ou, na melhor das hipóteses, no caso de se entrar na história, bandas de adolescentes que fazem aquilo pra se divertir e não levam o negócio pro futuro. Era irritante de qualquer modo.
É exatamente essa a sensação que tive ao ouvir “Handwritten”, o quarto e mais recente disco do Gaslight Anthem. Brian Fallon, o líder da banda, já tem 32 anos, e já deveria ter superado essa fase. Mas ele tá aqui cantando os mesmos “sha-la-la”, “oh-oh-ohs” e afins, empunhando uma guitarra e uma atitude que só têm cenário em filmes bobocas estadunidenses.
Um amigo que tem boas intersecções musicais comigo me indicou o disco. Sabia que eu havia gostado do segundo da banda, “The ’59 Sound”, insistiu pra que eu ouvisse. Mas eu já tava com o pé atrás, depois de um show que vi deles, lançando esse “Handwritten”. O show havia sido vergonhoso, e era baseado nesse disco – por quê, oras, o álbum seria bom?
Mas fui na dele.
O Gaslight Anthem continua embebido na obra do Bruce Springsteen, inclusive os vocais de Fallon. As canções ainda falam de juventude, morte, aquele papo de sair dirigindo carro e tals, mas algo aqui não deu certo (como não havia dado com o anterior, “American Slang”, de 2010). Por outra, deu muito errado.
Quase nada se salva aqui. Talvez os alicerces blues de “Howl”, mas veja lá: ela é só a sétima canção. Antes disso, você tem que passar pelas “Handwritten”, com um começo vergonhoso, cheio de “oh-oh-oh-oh”, e uma guitarra-clichê, “conversando” com o vocal e exibições dispensáveis, além da desacelerada básica; “Here Comes My Man” começa bem, avistando o épico, mas aí vem Fallon e destrói tudo, com um vocal irritante e um “sha-la-la”. “Mulholland Drive” apresenta-se óbvia, com os dois primeiros versos: “did you sleep last night and do you remeber dreams? / do I ever cross your mind and do you ever think of me?”.
É um clichê atrás do outro. Talvez você desista bem antes de “Howl” e nem siga em frente (há ainda um rife interessante, em “Biloxi Parish”, e as lentas “Mae” e “National Anthem”, talvez as melhores do disco, com muita boa vontade).
Veja o vídeo de “45”:
A culpa pode ser do produtor escalado e encarregado dessa primeira empreitada do Gaslight Anthem numa grande gravadora, a Mercury. Brendan O’Brien já esteve a frente de discos do Pearl Jam, do Velvet Revolver, Offspring, Killers (o novo “Battle Born”) e, claro, Bruce Springsteen. Seus discos, prestando atenção, soam todos despudoradamente iguais. O que faz a diferença é o talento do artista. O Black Corwes, o Pearl Jam e o Boss já provaram que é difícil um produtor esculhambar boas ideias.
No caso do Gaslight Anthem o que faltam são boas ideias.
Tudo parece um comercial de cigarros ou um epílogo de um filme adolescente. Não importa se você já avançou dessa idade ou não. Não é um caso de ser ou não adolescente. A música aqui é ruim pra qualquer idade.
01. 45
02. Handwritten
03. Here Comes My Man
04. Mulholland Drive
05. Keepsake
06. Too Much Blood
07. Howl
08. Biloxi Parish
09. Desire
10. Mae
11. National Anthem
(pra ouvir na íntegra, clique aqui – por tempo limitado – via NPR)
NOTA: 2,0
Lançamento: 24 de julho de 2012
Duração: 40 minutos e 50 segundos
Selo: Mercury Records
Produção: Brendan O’Brien
Gosto muito do trabalho do TGA. Acho uma das melhores bandas do gênero, ou melhor, uma das únicas bandas capazes de salvar o rock n roll do emocore, rap, e afins. Gostar ou não é questão de opinião. Você não gostou do álbum, mas não desmereça ou tente rotular quem gostou. Texto bem escrito, mas perde-se completamente na avaliação.
[…] gravadoras ou selos. Não é uma medida muito popular descer o sarrafo em bandas como o The XX ou o Gaslight Anthem, por exemplo, mas se os discos são ruins (como são), merecem uma bordoada, mesmo que isso valha […]
Independente da nota final, Gaslight Anthem é uma banda única e tem muitos méritos