RESENHA: THE RAVEONETTES – OBSERVATOR

SOL E AS PORTAS DA PERCEPÇÃO

Do túmulo ao sol. Pra maioria das pessoas, essa metáfora significaria uma notícia boa: alguém que estava afundado, morto, sem saída, pra alguém que consegue já encarar a vida de peito aberto, com sorrisão no rosto.

Bem… Não pros dinamarqueses do Raveonettes.

Sune Rose Wagner e Sharin Foo gravaram esse “Observator” no Sunset Sound Studios, em Los Angeles, Esteites. Wagner queria gravar no local onde os Doors fizeram, segundo ele, seus melhores trabalhos, o que inclui os dois primeiros discos, “The Doors”, de 1967; e “Strange Days”, do mesmo ano.

Parece uma piada, mas aparentemente é pra se levar a sério. Wagner saiu de um processo de depressão, que segundo consta fez o vocalista, guitarrista, compositor e produtor se meter numas de drogas e álcool. Se essa história não está bem contada, porque não se tem notícia por quanto tempo o problema se prolongou (ou nem mesmo qual foi a gravidade), entende-se que é um quadro que poderia vir do disco anterior da dupla, o belíssimo – e difícil, pra muita gente – “Raven In The Grave”, de 2011.

O que se sabe de concreto é que qualquer que seja o cenário em que se coloque Sune Rose Wagner, ele parece que está muito bem, após abrir “as portas” da percepção e do estúdio de Los Angeles: “Observator” é o disco com sonoridade mais pop e doce do Raveonettes.

Embora alguns temas e letras possam ainda carregar o peso de corações partidos, mortes, dias escuros e, claro, drogas (“Is it valium, is it all drugs / Or is it just every day fun?”, em “She Owns The Streets”), a embalagem é cativante, leve e “ensolarada”, se esse termo ainda não estiver desgastado (a banda chega a amaldiçoar a noite, em “Curse The Night”, uma bela balada, na voz de Sharin).

A junção Doors-Raveonettes, em alma, está na mesma impressão auto-destrutiva de Jim Morrisson e suas viagens alucinógenas, embora aqui, nesse sexto disco, os dinamarqueses pareçam mais livres de qualquer preocupação por parte dos fãs. Eles não vão se entregar e abotoar o paletó de madeira. Afinal, a temática depressiva sempre rondou os trabalhos do Raveonettes. É estampa da banda – e sem dúvida uma válvula de escape.

Mas aqui, de novo, a roupagem está diferente. “Observations” tem uma levada de piano, quase acústica. Onde estão os pedais a la Jesus & Mary Chain? No caso de “Observator”, é prudente não desanimar. O Raveonettes mudou, mas ainda é o Raveonettes, você verá.

“Observations”:

Só não é perfeito. Algumas canções parecem doce demais, como “The Enemy”, ou sem força, como “Sinking With The Sun”, ou emulando o shoegaze apático de um The Pains Of Being Pure At Heart em “Downtown”. Parece que vai tudo pro buraco.

Mas não. Você terá que passar por todas elas pra chegar na melhor do disco, “Till The End”, carregando o que o Raveonettes tem de melhor: distorção, melodia e energia.

É assim com essa dupla: é preciso acreditar até o fim. Ela pode se enfiar no buraco, mas vai achar um sol pra iluminar sua criação.

NOTA: 6,5
Lançamento: 11 de setembro de 2012
Duração: 31 minutos e 20 segundos
Selo: Vice Records
Produção: Richard Gottehrer

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