RESENHA: THE TAPE DISASTER – OH! MYELIN

Como muitas bandas preocupadas com as experimentações dentro de uma estrutura determinada (o rock, no caso), as métricas irregulares do The Tape Disaster figuram como a primeira coisa que você vai reparar ao ouvir “Oh! Myelin”, seu primeiro disco cheio (leia outra análise aqui e ouça o disco).

No entanto, os poucos mais de três minutos da segunda faixa, “Condicionado”, já ambienta com certo conforto o ouvinte. A partir desse compartilhamento, entre uma engraçada barreira de uma superfície confusa e seu epicentro rítmico, caminharemos em conjunto com a banda até o fim.

Quem tem acompanhado certa mesmice nas últimas bandas que se intitulam de “math rock” vai descobrir no The Tape Disaster saídas que a tiram de uma sonoridade genérica. Porque “Oh! Myelin” apresenta um conjunto preocupado em criar atmosferas e também canções, pra que o diálogo não fique apenas na camada técnica e passe, principalmente, pela evocação de sensações.

Colocando-se entre a ambiência típica do post-rock e os rompimentos bruscos influenciados pelo math-rock, “Oh! Myelin” se ergue como uma música essencialmente otimista, que não acusa nas fronteiras ao redor qualquer espécie de prisão, mas que prefere explorar os cantos vazios porque ainda há muito pra se fazer.

Muito desse trabalho pode ser sentido de maneira extremamente próxima, como se a exploração dessas sonoridades atiçasse no ouvinte a vontade de diminuir a distância entre o que se ouve e o que se passa internamente. Através do acolhedores versos de guitarra é que a sensação pungente de “descobrir-se enquanto ouve o disco” é evidenciada.

Os elementos mais abrasivos, no entanto, constroem uma segunda camada que garante a autoridade de unidade no disco. Mais do que canções soltas que carregam um valor intrínseco, o todo de “Oh! Myelin” prolonga uma sensação originária pra diversas derivações que se complementam ou apenas se espaçam até transformarem-se em outra coisa.

Como se os versos “tortos” passassem pela estrutura canônica instrumental e saíssem de outra maneira – seja por distorção, seja pelo abafamento dos outros instrumentos. Não são partes diferentes que necessariamente se contrastam, pelo contrário, o álbum todo parece ser a mesma canção que começou dum jeito e terminou de outro – mas, ainda assim, reside em quem ouve uma familiaridade que foi se reinventando no prolongar do disco. Como se as sílabas ditas por alguém formassem outra oração após determinado período, mas a voz ainda fosse a mesma, guardando resquícios de intimidade e transformação.

NOTA: 8,0
Lançamento: 24 de março de 2017
Duração: 25 minutos e 21 segundos
Selo: Sinewave
Produção: Sebba Carsin e The Tape Disaster

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