RESENHA: THE XX – COEXIST

NO ELEVADOR

Já me disseram, e eu tinha a tendência a concordar, embora com ressalvas, que talvez não existam discos realmente ruins, eles só precisam ser ouvidos no lugar e no momento certos.

Pois eu estava há algumas semanas indo a uma reunião, num desses prédios comerciais onde a noção de segurança é daquelas de pedir na entrada RG, foto, impressão digital, atestados de antecedentes criminais, teste de sífilis, audiométrico e afins, quando percebi que pra mim alguns álbuns não resistem nem àquele que parece ser seu habitat natural.

Estava acompanhado de um publicitário, o atendimento de uma agência média de São Paulo, cujo papo é tão interessante quanto assistir uma partida de xadrez narrada em finlandês e cujo gosto musical me fazia supor que por debaixo daquela camisa bem passada e abotoada até a gola vestia a camiseta da última turnê do Dave Matthews Band.

Entramos no elevador portentoso. Parecia um motel: espelhão, televisão, luzes baixas e uma música suave tocando. Apertamos o 567º andar (esses prédios são gigantes e uma viagem de elevador, por mais moderno que ele seja, sempre demora o equivalente a subir mais de 500 andares). No percurso, de repente, o fã do Dave Matthews Band muda drasticamente sua fisionomia, que estava tensa pela reunião que teríamos, pra uma irritante felicidade: “nossa, tá tocando The xx!”.

Não que eu devesse ficar admirado por ele gostar de The xx – talvez seja a banda ideal pra ele – mas o fato dele reconhecer a banda de imediato e se mostrar verdadeiramente satisfeito por demonstrar seu profundo conhecimento na matéria, me fez procurar algum sentido naquilo.

Já havia tentado entender o The xx. Baixei o “xx” (de 2009) e ouvi repetidas vezes, na esperança de captar o fervor do hype. Fui ao show da banda. Ouvi de novo. Nada. Até que uma vez, na sala de espera do dentista, tocando “Crystalised” (não sei se era ela, na verdade, todas são um tanto parecidas), senti um conforto naqueles minutos aguardado ser atendido. Olha, pensei, o The xx funciona!

Quis crer que pra salas de espera (consultórios médicos e afins) o “xx” era perfeito. Que baita banda pra você passar um tempo ali, olhando pra aquela secretária rechonchuda digitar algo e preencher fichas cadastrais na mão. Vi uma utilidade pra banda e talvez o que haviam me dito era verdade: não existem discos realmente ruins, eles só precisam ser ouvidos no lugar e momento certos.

Minha lógica trabalhou rápido: se funciona num consultório médico, funciona também num elevador. Claro! Cheguei em casa, peguei o iPod e corri pro elevador. Que disco deve se revelar esse “xx”! Mas, frustração. Não funcionou. Talvez fosse o meu elevador, uma caixa meio sem graça e que não objetivava nada tão grandioso, nenhum compromisso nem nada.

O The xx precisa te pegar de surpresa, sem mais nem menos, ali num elevador comercial (porque normalmente são os elevadores comerciais que tocam easy listening). E tive tal oportunidade, veja, sem querer, de surpresa, no momento certo (indo pra uma reunião), com a pessoa certa (que conhecia profundamente a matéria). E finalmente comprovei, com todos os requisitos a favor, que o The xx não funciona. Não pra mim.

Não há um só sentimento que essa banda me passa que não seja o de preguiça, que não seja uma sonolência involuntária.

“Angels”:

E “Coexist”, o segundo disco, tão esperado por todos, se tornou um fardo pra mim. Eu precisava ouvir pra resenhar, eu precisava tentar me redimir na relação com a banda (não é possível que só eu tivesse essa sensação). Ouvi, ouvi, ouvi novamente. “Angels” começa chamando minha atenção. Agora vai, me empolgo.

Aquela batida abaixo do tempo, a voz elegante, o clima cool… Aí, veio “Chained”, com aquela batida abaixo do tempo, um pouco mais elaborada, mais vozes elegantes, mais clima cool… “Fiction” nos apresenta um batida elaborada, abaixo do tempo, vozes elegantes, um clima igualmente cool… “Try” tinha – surpresa – uma batida abaixo do tempo, umas vozes elegantes e um clima cool

Romy Madley Croft, Oliver Sim e Jamie Smith parecem-me as mentes certas pra sonorizar comerciais elegantes, de produtos cool, com aquele climão de filme hollywoodiano, ator bonitão, atriz estonteante, pra classe média alta abrir o sorriso e bolso. “Coexist” está inteiro aí pra isso, como “Play”, do Moby, serviu por muito tempo. É a preguiçosa música pop a serviço de alguma coisa.

Na falta de uma equipe de publicidade que use isso, que tenha “essa sacada” e jogue o disco em sua televisão por trinta segundos, experimente as salas de esperas de consultórios médicos. Ou um elevador ultra-moderno dos modernos prédios comerciais de hoje. O The xx estará lá, pra se fazer útil e moderno.

01. Angels
02. Chained
03. Fiction
04. Try
05. Reunion
06. Sunset
07. Missing
08. Tides
09. Unfold
10. Swept Away
11. Our Song

NOTA: 1,0
Lançamento: 5 de setembro de 2012
Duração: 37 minutos e 33 segundos
Selo: Young Turks
Produção: Jamie Smith

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Comentários

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7 comentários

  1. Até que em fim , alguém dizendo ALGO SENSATO do The XX…O Rype de Lúcio Ribeiro e afins , também não me convence . Música tem que ter “ALMA´´ ou “Pegada´´ mesmo sendo cool; quando não tem , pode se tornar ruim SIM! Existe discos ruins Sim…

  2. Taí uma banda que não me desceu. Eu adoro esse clima cool, atmosférico, viajandão, mas sei lá, algo não bate. As canções são todas parecidas demais, e não consigo senti-lo na alma. também tô tentando pensar como vc, talvez o momento não era ideal. Então resolvi deixá-lo no ipod para uma futura audição.

  3. Realmente o segundo album para voce foi um fardo para ouvir, pois, sua resenha e tao chata e cansativa, que nem consegui terminar de ler…se o album tiver alguma relacao com a sua resenha, creio que este esta na lista dos piores albuns de 2012

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