RESENHA: VATHLO – EP

O axioma do EP do Vathlo se baseia numa urgência em que a densidade sonora é profundamente esparsa, caracterizando cada som como insubstituível e como uma formulação natural de deslocamento do conceito mais tradicional de “rock” pra uma ambientação hipnótica em que a estrutura sai do simplismo “rítmico” pra aderir ao prolongamento do instante.

Numa formulação metamusical, em que o “rock” deixa de sê-lo pra indagar justamente a percepção do ouvinte, as novas multiplicidades baseiam-se na certeza de que repetir não é apenas “reprisar”, mas sim um processo de renovação que dialoga em como a audiência percebe e consome música.

A ideia – singular, profunda – é a seguinte: a insurgência duma produção deliberadamente “pobre”, em prol de novas possibilidades, para a interação entre música-ouvinte.

O crucial nesse EP é a forma como cada um o escuta. O lance sobre o trabalho do Vathlo (uma dupla formada em 2006 pelos ex-Supercordas Filipe Giraknob, na guitarra e voz, e Kaue Ravaneda, sintetizador e sampler) é que ele é melhor consumido em prolongamentos afastados das determinações do dia-a-dia e seus detalhes exigem revisitações constantes.

O escapismo atinge seu auge em “Braddock Blues”, onde uma espécie de submissão do ouvinte nas outras faixas se transforma na própria libertação. É quando as coisas parecem menos pesadas, apesar de ruídos intermitentes.

O EP pode mesmo ser apreciado como uma disfunção em qualquer gênero que alguém pense em catalogá-lo. Novamente, ele é melhor apreciado através de repetições e em cada uma delas é evidenciado que através da quebra do ciclo reside uma originalidade. Quando as luzes passam a piscar, novas formas ganham vida entre a indefinição da escuridão e da iluminação.

Graças à exploração do indefinido é que novos contornos musicais podem ser estabelecidos. E enquanto existir espaços inexatos pra essa exploração, sempre haverá uma repetição incessante que martela na sua cabeça até você se render a ela.

1. Toxi Charm
2. Debalde
3. Braddock Blue
4. Pobre, Pobre, Pobre

NOTA: 7,0
Lançamento: 29 de abril de 2017
Duração: 21 minutos e 37 segundos
Selo: Sinewave
Produção: Bernardo Pacheco

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