O desenvolvimento que o Vermes Do Limbo mais o guitarrista Bernardo Pacheco entregam em “Berne Fatal” é de uma decomposição colossal. O axioma da ação é juntar a guitarra quebrada de Pacheco com a sensação crônica de “locomoção urbana subterrânea” que os Vermes sempre passaram em sua trajetória.
A existência como um trio compondo e atuando no disco, ao invés de anular a brutalidade submersa que sempre foi o que mais me chamou atenção na expressão musical do Vermes, multiplica esta imersão grotesca nas esquinas da cidade (por algum modo eu sempre me lembro de São Paulo quando ouço Vermes Do Limbo: dos trens lotados após as cinco da tarde, dos muros pichados visíveis através dos vidros do vagão etc…). O caráter urbano e imediatista é presente em cada nota.
O poder da guitarra de Bernardo – às vezes finalizando em uma jam impensável, outras abrindo especulativamente pra uma interação com os outros instrumentos – não apenas é um elemento adicional na estranheza impactante da dupla, como propulsiona improviso no disco (são sete faixas improvisadas em estúdio, como se sabe – ouça e saiba mais sobre o disco aqui), extrapolando o sentido de “composição” que limita uma obra naquele espaço (disco) e tempo (a execução em estúdio).
Ao invés dos elementos “de improviso” estarem confinados em segmentações ao longo do disco, eles ressoam mesmo nas partes com letras (que são as partes compostas tradicionalmente). Estas designações podem parecer bastante teóricas, lendo assim, mas não duvide: o álbum é, ao lado de “Uncanny Valley”, do Stabscotch (leia aqui), uma imersão num rock imprevisível em que uma construção pode ser toda dilacerada por uma invasão, anulando qualquer espécie de clímax.
—
NOTA: 8,5
Lançamento: 18 de abril de 2017
Duração: 15 minutos e 50 segundos
Selo: QTV e Malware (versão cassete, com material extra) e Sinewave (versão final)
Produção: Bernardo Pacheco